domingo, 19 de junho de 2011

Memórias da Infância (2) - A Rua Cônego Leão Fernandes

A Rua Cônego Leão Fernandes (ou, o que se passava nela)

Nossa rua era massa! Cheia de amigos. Brincávamos como irmãos. Entravamos e saímos uns das casas dos outros como se fossem nossas próprias casas. Um lanche ali, outro acolá, uma briga ali, um banho de "bica" acolá... 


Banhos de Chuva...

Ah, as chuvas! Foi muito banho de chuva na rua, no meio da rua, nas biqueiras das casas, nossa e vizinhas, e até "nos buracos" misturados com areia ou barro e cheios de água de chuva, como se fossem piscinas... 
Dos Jambos...


Apesar de termos nosso próprio pé de jambo, costumávamos roubar jambos de outra casa. Eu, minhas amigas, meus irmãos e seus amigos "da rua". Na dita casa não havia mais meninos, todos já eram "de adolescentes pra adultos". E o pé de jambo era enorme... 

Uma vez o cachorro de lá soltou-se e perseguiu a mim e uma amiga. Corremos e conseguimos chegar até minha casa (três casas depois!). Nem sei como, pulamos a janela do meu quarto que era super alta... Ufa! Vale ressaltar, que além dos jambos, comíamos também as folhas e as flores. Loucuras! 


Ficar de Mal, Ficar de Bem...


Essa tal amiga era minha melhor amiga na infância. Mas, às vezes ela ficava braba e eu era meio abestalhada pro povo "de fora". Só era danada em casa. Então, vez por outra ela me dava uns empurrões, e ficávamos "de mal". Mas, mesmo de mal, íamos juntas ao teatro, ou pra qualquer passeio que nossos pais convidassem... 

Essa coisa de "ficar de mal" na nossa rua era muito engraçado. O mesmo se passava com meu irmão, João, e seus amigos. De vez em quando brigavam e ficavam de mal. Mas, iam pra nossa casa de praia, ou pra granja de um deles, ou outro lugar que fossem convidados. Os convites eram feitos através de outros amigos. Um não falava com o outro, mas mesmo assim brincávamos juntos. Muito doido!


Telefone? TV?


A maior parte das brincadeiras eram na rua. Ou mesmo dentro das casas, mas brincadeiras mesmo. Fossem jogos, bonecos ou até pular nas camas, valia tudo. Menos ficar parado. Televisão e telefone eram coisa rara! Recados eram dados na porta!

Naquela época, telefone só tinha em duas casas. Daqueles telefones pretos... Depois quando minha vó mudou-se pra nossa rua, na casa dela também tinha telefone... Pra telefonar, só pedindo e era um arrodeio grande pra pedir... Meu avô "trocava" uma ligação por arrancar matos da grama ou cabelos de suas orelhas... O mesmo ele fazia se pedíssemos um picolé ou qualquer outra guloseima de criança...
Um telefone daquele "tempo"...
Televisão, tinha em poucas casas. Uma, na casa da minha avó. Mas antes dela chegar na rua, a "galera" assistia em uma outra casa da rua. As TVs eram "preto e branco", mas essa era "colorida" com três cores, como se fossem três pedaços de papel transparente colados em cima...
Acompanhando Minha Babá...


"Dona", minha babá (no canto à esq.) e eu  (a foto tá ruim, mas...)
Às tardes, até eu fazer uns cinco anos (ou mais), "Dona", minha babá, me pegava pela mão e me levava até uma mercearia próxima (que chamávamos de "venda") pra jogar no bicho. E de vez em quando eu ganhava umas balas, que chamávamos de confeitos. 

Lembro de duas "vendas" pertinho d'a gente: a venda de seu Doca e a venda de seu Canuto. Um pouco mais "pra lá" tinha uma terceira: a de seu Tonho. Dona gostava de jogar na de Seu Doca.

Depois descobri que Seu Doca era pai da minha primeira professora do "primário": Dona Antônia. E, também de Dona Judite, do segundo ano. Coincidências!


A Rua e Seus Dois "Pedaços"...


A rua era dividida em duas partes. A rua Mossoró cortava-a ao meio. Na infância ficávamos só numa parte, entre a Mipibu e a Mossoró. Depois de adolescentes (ou quase) começamos a fazer amizade com  o pessoal do outro lado...

Então, no nosso "pedaço" era assim: de um lado quatro casas, incluindo a nossa,  um terreno (que depois "virou" a nova casa de meus avós) e, vizinho à nossa, bem na esquina, um terreno baldio enorme (na verdade, eram dois terrenos)... 

Do outro lado, também quatro casas e dois terrenos (um deles onde construímos depois nossa segunda casa). Haviam casas grandes e outras pequenas. O dono de uma das maiores casas, tinha um carro "de luxo", um Sinca, eu acho (ou era um Aero Willys?), usava as calças "altas" (Até hoje se vemos alguém com as calças lá em cima, dizemos: "ei, tá com as calças de Seu Fulano"?" hehehe!).

Um Aero Willys...
Na maioria das casas existiam crianças de nossas idades, todas amigas!... Mas, mesmos nas demais, às vezes apareciam os netos ou sobrinhos. No final das contas,  todos se conheciam, todos se falavam e parecia mais uma grande casa do que uma rua cheia de casas.

Eu tinha um trauma. Contava (fazia as "contas") o pessoal que tinha morrido em cada casa, e tinha um medo danado de "chegar a vez" da nossa casa. Ainda moramos muito tempo por lá, mas felizmente nos mudamos antes de chegar a vez de alguém nosso... Bom, claro que isso era uma bobagem da minha cabeça...


De Manias ou "Crenças"... 


Falando em bobagens infantis, eu tinha outras manias "loucas". Ia pra escola andando pelo meio-fio e fazia de conta que a rua era um rio. Se caísse lá, um jacaré me pegava... 
http://blogs.diariodepernambuco.com.br/joaoalberto/capa/sai-da-lama-jacare/

Também, quando eu ia pra praia, na beira do mar eu corria das ondas que vinham, e pensava que se as ondas não me pegassem eu ia tirar notas altas nas provas. Quando alguma onda batia em mim, eu pensava: "não valeu", e começa tudo de novo. 

Deixando de lado minhas "manias" e voltando a nossa rua...


Das Mangueiras e Outras Coisas Mais...


No mesmo terreno baldio onde pegávamos nossas árvores de Natal, os meninos da nossa rua jogavam futebol. Brincavam! Também brigavam. 
http://www.abckids.com.br/verdesenho.php?codigo=290

Lá tinha uma mangueira enorme. Outra mangueira assim tinha na casa da minha melhor amiga, e irmã de um grande amigo de João meu irmão!

O pai dela era "aluizista" ferrenho. Isso queria dizer que na política ele era "do lado" dos Alves, sendo Aluizio seu maior líder. Em Natal, naquela época eram os Alves contra os Mariz. Na verdade Aluizio versus Dinarte! Na mangueira da casa da minha amiga  (que tinha uns seis irmãos), sempre balançava uma bandeira verde (cor dos "Alves")!


Nessa mesma mangueira, João e seu amigo subiam a faziam "cocô" lá de cima (diz meu mano)... Achavam engraçado, mas quem passava por baixo tinha mais era que "dedurar" aos pais essas peraltices desses meninos... 
Esse pai "aluizista" era representante da "Garoto"... Meu irmão e seu amigo faziam uma banquinha embaixo da mangueira pra vender chocolates, pastilhas, etc. Até revistinhas (gibis) entravam na "onda" das vendas! 
http://www.garoto.com.br/portal/produtos/mostraproduto.aspx?produto=1715


"Aluizista"?


Falando em "Aluízio", eu lembro que aos três anos ia com a empregada da minha avó para os comícios, vestida de verde e branco com uma bandeira verde. Muita gente usava também galhos verdes. 


Eu tinha um boneco (até hoje ele existe na casa da minha mãe) que se chamava Ivan Alves. O "Alves", em homenagem a Aluízio! Coisas de criança. Pois é, eu hoje, nem iria ser "aluizista" nem "dinartista", enfim... 

Mas eu era tão fã de Aluízio, que minha mãe convidou-o pra minha primeira comunhão. Ela tinha lá suas amizades com a família, desde quando moraram na mesma rua, e mais por outros motivos de trabalho, enfim...


"Responsabilidades" de Madrinha e Irmã...


Quando nasceu meu segundo irmão, Carito (Carlos Estevam), eu me sentia responsável por ele. Sou madrinha dele. Naquele tempo tinha uma tal de madrinha de apresentação. Levei isso muito a sério e tomava conta dele. Quando ele começou a ir pra escola eu levava seus lanches, bem na hora do recreio. Só "porcaria" que crianças adoram: sorvete "de rua", kisuco, etc. 
Um carrinho típico de sorvete vendido nas ruas (http://www.davidwhitman.com/writings/Entries/2008/12/13_Carrinho_de_Picole.html)
http://www.arcadovelho.com.br/Gelinho/kisuco.htm
Levava ele também pra passear na garupa da minha bicicleta. Uma vez olhei pra trás e ele não tava lá. Parei a bike e percebi que ele estava a uns cinquenta metros atrás "estatelado" no chão. 
http://ayescha.blogspot.com/2011/03/meu-primeiro-acidente.html
Levei-o comigo também nas minhas primeiras experiências de dirigir carro. Enquanto meu pai "tirava a siesta" depois do almoço, eu "roubava" a Brasília branca e dávamos voltas pelo quarteirão. Até um dia que me aventurei pra mais longe e encontrei uma feira... Ei, mas isso já é história da adolescência...

Depois nasceu meu terceiro irmão, Mário Ivo. Quando ele era pequeno muitos o chamavam de "Ivinho". Em casa era apenas Ivo. Minha mãe mandava eu tomar conta dos dois menores enquanto brincavam ou brigavam. Eu apenas olhava aquela sequencia de brinca e briga, e achava que estava fazendo meu papel...
Os dois manos mais novos

Na época de São João havia fogueiras na nossa rua. Estrelinhas pra acender, chumbinhos pra estourar, e no máximo umas pequenas bombas chamadas "peido de véia" que as crianças maiores soltavam...
Aniversários com cachorro quente e guaraná champagne... Aliás, refrigerante era coisa que se se tomava em aniversário ou se estivesse doente, nesse último caso valia também umas maçãs...
http://www.emule.com.br/lista.php?keyword=Guaranias&pag=4&ordem=HIT_PAGE

Os nossos aniversários tinham sempre lancheiras feitas por minha mãe. Aliás, a ideia era dela porque quem "botava a mão na massa" era Eunice (Manice) que vinha lá de Macaíba pra ajudar. A minha mãe, com seu lado artístico sempre fazia festas diferentes. 
Meu 1º aniversário. Minha vó Lili, minha vó Belita, meu avô Estevam, minha mãe, eu e meu pai! Bolo by mama!
Os bolos eram fantásticos. Confeitados! De temas variados e altamente bem feitos, pra não dizer perfeitos. Os bolos eram feitos by mama. As lancheiras caprichadas e os bolos sempre temáticos, com um toque de perfeição e inovação!
Um de meus aniversários, com parentes e amiguinhos da Rua. O bolo era um carrossel...
Lembro bem de um de meus bolos de aniversário, que era um carrossel. Todos os cavalinhos feitos de açúcar e coloridos! Outro, quando moramos no Rio, era um berço de bebê. Mas, não pensem que era um bolo desenhado com um berço não! Era literalmente um bolo no formato de um berço, como o do carrossel e tantos outros!
Eu com presentes de aniversário!
Eu e meus pais em dia de festa!
Que Mais Pra Contar? 


Tanta coisa... Acho que vou terminar deixando de escrever várias, mas...


Férias, fins de semana, feriados e após chegar da escola (depois de feitas as tarefas), a rua era uma alegria só!

Brincar de "tica", de "matar" (tem outro nome no sul...), de "roda", "amarelinha" (acho que a gente chamava "academia"), pular corda, esconde-esconde, correr por correr, subir em árvores, pular dos muros, brincar dentro das casas e no meio da rua... Ficar de mal, ficar de bem... Coisas da infância...











2 comentários:

  1. Embora faça parte do "outro lado da rua", lembro de algumas dessas passagens. Aliás, pelo fato de estudar na mesma escola também tivemos uma convivência nessa época, "nesse lado da rua", já aos 7 anos de idade. Lembro que adorava ir estudar na sua casa para comer aquela goiaba branca que tinha no quintal de sua casa. Que goiaba deliciosa!!! Mas agente só podia comer depois de fazer a tarefa. E Mariana, a secretária, é quem dava as goiabas. Adorava!!!

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  2. É verdade Mara. Como você estudava comigo na ED, embora morasse no outro "pedaço" da Rua, vinha sempre estudar lá em casa. Às vezes eu ia na sua... Mas,com as outras meninas da Rua (do "seu" lado") só fui me enturmar, mais tarde... perto da adolescência... Você é uma grande amiga desde criança até hoje! Acho que é a única que pode ter esse título... (Ana Lúcia vai reclamar, mas ela chegou depois kkkkkk).

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