sexta-feira, 24 de junho de 2011

Memórias da Infância (4): As Praias

Nasci perto do mar. Da primeira casa onde morei dava pra ir a pé pra praia. Praia "dos Artistas", Praia do Meio, Areia Preta... Acho que uns dois quilômetros, no máximo. Só tinha que andar uns quarteirões e descer a Ladeira do Sol. Meu irmão quando pegava "onda" (surf) ia quase todo dia a pé com sua prancha...

Já a Praia do Forte, que era melhor pra criança, era um pouquinho mais longe. Mas não tanto! Era quase uma piscina, com as águas "represadas" pelas pedras (arrecifes). 
Mas, acho que meu primeiro banho de mar foi em Genipabu. Tenho uma foto, com meses de nascida, num banho de mar com meu pai lá. Não lembro, mas tem a foto pra provar! 

eu e meu pai, na praia de Genipabu
Lembro dos primeiros veraneios na Redinha. E de passeios com minha vó pelas praias "centrais" de Natal, como também de idas à Ponta Negra pra casa de minha prima Helianinha. Diga-se de passagem, casa de veraneio. Naquela época, Natal acabava numa tal "corrente", perto de onde hoje é o Machadão, e antes, a tal corrente era ali na Alexandrino... Ôps... 


Na Redinha

Bom, mas vamos aos veraneios da Redinha...  Meus pais alugavam uma casa logo no comecinho (ou seria o finzinho?) da Redinha. A casa era grande e arrodeada de alpendres... Atrás, tinha um mangue onde íamos lá pegar caranguejos...
Praia da Redinha hoje. Nossa casa era bem mais pra esquerda, não aparece aí... http://www.panoramio.com/photo/49383328

Na casa vizinha à nossa casa tinha uma menina. Meu irmão dizia que era a sua namorada (ou era ela quem dizia?) e os dois viviam pulando de mãos dadas da mureta dos terraços pra areia da praia (acho que não tinha calçada).

Nossa outra vizinha era uma amiga de minha mãe, Jandira. Nem sei se ela alugava essa casa todo ano, mas lembro muito bem dela porque ela tinha um lugar no "meu coração". Sentimentos de criança desses fortes e verdadeiros. Nunca disse a ninguém... Ela tinha três filhos, mas também não lembro se os três já tinham nascido nessa época. Jandira participava muito da nossa vida "praieira" ou fora dela. Quando eu era adolescente ela partiu desse mundo... Enfim...

Tinha uma coisa engraçada que, na época, seu marido falava. Como meus pais sempre gostaram muito de viajar, creio que tentavam levá-los juntos, mas ele sempre retrucava: " Viajar pra que? Todas as cidades são iguais. Casas de um lado e de outro e uma rua passando no meio". Cada qual tem seus gostos, né?

Minha tia Violeta, tinha também uma casa na Redinha. A dela era "mais pra lá", já perto da igrejinha. Aos meus olhos, a casa era enorme, com um terraço enorme... Tudo grande! 

Para ir pra Redinha tínhamos que ir de barco. Muitas vezes, mesmo fora de veraneio, eu ia com Lalá, minha outra tia, pra casa de Violeta. Lalá tinha umas amigas, que agora não lembro os nomes, e todas íamos almoçar na casa de Violeta. De lancha, ou de barco a vela...

Barcos na travessia Natal-Redinha. Naquela época não havia esses prédios... http://jabacomjerimumrn.blogspot.com/2010_04_01_archive.html

Uma vez, minha mãe fez um aniversário de meu irmão João (que era em fevereiro) "uma festa à fantasia". Só que as fantasias eram de papel crepom. Todas lindas, coloridas... Palhaços, chineses, bruxas, fadas, etc. e tal. O lance era que depois todos deveriam tomar banho de mar com as fantasias! Foi uma choradeira quando as fantasias começaram a se desmanchar no mar...
O banho de mar à fantasia. Tia Míria com João, meu mano, de palhaço. E outras crianças...
Lembro também de muita areia quando íamos pro lado da casa da minha tia ou pra Missa. Vento e areia! Uma vez caiu um cisco no meu olho e quase não sai mais. Foi horrível! 

A praia da Redinha era legal, mas o banho de mar tinha um limite, porque tinha um canal fundo e diziam também que havia redemoinhos que "puxavam" a gente caso passássemos desse limite. Dava um certo medo...

Tinha o trapiche, que alguns se aventuravam e pulavam de lá. Era onde os barcos ancoravam, e às tardes estávamos sempre por lá pra ver a chegada deles...

O Trapiche na Redinha (foto Jaeci)
Na lateral, tinha uma parte que chamávamos de "costa". Com grandes ondas, mar aberto, diferente da "frente" da Redinha. Dava medo tomar banho por lá! Hoje em dia chamam de "Redinha Nova" (ou Nova Redinha, sei lá...).

Minha mãe conta que fazíamos grandes passeios a pé até Santa Rita, que ficava depois da "costa" e um pouco antes de Genipabu. Desses, eu não lembro muito bem...

Quando eu tinha dez anos meus pais construíram uma casa em Pirangi, beira-mar, e nosso veraneio mudou-se pra lá...

Em Pirangi

Minhas primeiras lembranças de Pirangi são de alegria. Meus irmãos num barco, longe, e minha mãe olhando do terraço. Meu pai caminhando na praia e depois deitado de braços abertos, ao sol. Eu, com amigas, em banhos de mar intermináveis. Eu, meus irmãos e as empregadas indo pegar caranguejos no mangue. E, banhos no rio... 

Pirangi do Norte, hoje. Nossa casa ficava perto daí. Na época em vez desse "pier" tinha um curral  pra pegar peixes...  http://www.pbase.com/image/109814711
Pirangi não tinha energia elétrica. Nem água potável. Íamos buscar água em Pirangi do Sul, numa bica perto de uma cruz. Eu não gostava de ficar por perto da tal cruz, mas... 


A casa tinha um tanque grande no banheiro onde se despejava a água. Outra parte da água ficava em tonéis  na cozinha... Tinha também uma espécie de caixa d´'água e um poço (mas isso já foi depois...).  Do tal poço se puxava água à mão, só tempos depois foi comprada uma bomba elétrica...

Luz, de candeeiro, lamparina, e depois umas "lâmpadas" mais sofisticadas com um bujãozinho de gás... Até chegar a energia de "verdade".

Aos domingos, alguns amigos de meus pais nos visitavam. Um deles, Genário, casado com Geralda, era muito divertido. Levava a gente pra "roubar" cajus num terreno-sítio que ficava por trás da nossa casa e, se aparecia alguém ele logo dizia com sua voz engraçada: "Dona Maria me dê um cajuzinho"...
http://renatocearense.blogspot.com/2009/12/o-valor-nutritivo-do-caju.html
Os banhos de mar começavam cedo. De brincadeiras na areia fazendo castelos até "pegar carona" nos barcos de pescadores e dar uma "voltinha" no mar, tudo era válido! 
Tipos de jangadas que passeávamos... http://pt.wikipedia.org/wiki/Jangada
As tardes os banhos de mar continuavam. As tardinhas caminhávamos pela praia... Esperávamos os barcos de pescadores, ou as redes jogadas ao mar ali por perto, pra ver os peixes...

http://www.flickr.com/photos/felipaim/3172049517/
Minha mãe deixava a gente bem à vontade, sem cobranças de horários pra voltar... Liberdade com sol e mar...

Era tanto banho de mar que eu ficava "preta". Lembro que uma vez, já em Natal, um menino passou pela nossa rua e numa briga de palavras ele me chamou de "neguinha". Passei meses (ou dias?), sem querer voltar aos banhos de mar... 


Mas, eram apenas coisas de criança, preconceito (?) besta, porque depois, na minha adolescência eu ficava "esticada" na areia das praias, passando todo tipo de óleo, caseiro ou industrializado, pra ficar cada vez mais "preta". 


E até hoje curto minha cor. Pena, que os órgãos de saúde agora advertem "sol pode fazer mal...".  Por isso não consigo ficar mais nem preta, nem dourada, só amarelada! hehehehe!

Além do veraneio, muitas vezes íamos também pra lá em fins de semana. Lembro de um fusca de pai, lotado de gente e de coisas, e todos felizes! A cada povoado que passava meu pai cumprimentava as pessoas: "Bons dia Dona Maria", querendo imitar o jeito de falar deles. Não pra ironizar, e sim pra "chegar mais perto". Meu pai era assim, legal demais!

E, na "viagem" pra praia ele cantava todo o tempo. Foi assim que aprendi várias canções de "sua" época!

A noite meu pai contava estórias pros meus irmãos menores. Ficávamos nas redes do terraço... Ele gostava de contar umas estórias meio "terroristas" e meu irmão Carito ficava "assombrado" (mas gostava, paradoxalmente!).

"... Ondas tenebrosas, volumosas, tortuosas...", a voz cada vez mais ficando com um tom mais alto e mais "grosso". Carito à "berrar"... Minha mãe perguntando: "Jessé o que é isso que você tá fazendo com o menino?" E a gente rindo...

"ondas tortuosas" das estórias que meu pai contava... http://www.culturamix.com/meio-ambiente/manifestacoes/ondas-gigantes
Em Pirangi passei os veraneios do "resto" da minha infância e de toda a minha adolescência... Sobre a adolescência, conto depois...









2 comentários:

  1. Tá muuuuuuuuito massa! Senti na pele, o sol, e a saudade grande, no coração... E a mente a viajar... Qunta luz! Também gostava muito de Jandira! Besos!

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