segunda-feira, 27 de junho de 2011

Memórias da Infância (5) - Dos Medos e Outras Histórias

Realidades X  Lendas

Nos arredores da nossa rua "Cônego Leão Fernandes", na rua Mipibu, morava uma velha senhora, numa velha casa, que criava um milhão de gatos. Chamava-se Dona Biró, e a gente tinha um certo medo dela. 


O medo fazia parte da nossa infância, mas não como uma coisa terrível. Algo meio cultural. A gente até gostava de passar por lá pra "sentir" esse medo, ou tentar chatear a velha.


http://vivianevguimaraes.blogspot.com/2010/04/gatos.html
Tinha também uma personagem em Natal que diziam que comia o fígado das crianças.  Quando alguém inventava de "fugir" de casa o pessoal gritava "lá vem a Viúva Machado", e voltávamos correndo pra casa! Eu, pelo menos, vinha que vinha "embalada"...

Escutávamos também umas tantas estórias de almas, contadas pelas empregadas. Apesar do medo, sentávamos todos pra ouvir... E, paradoxalmente, gostávamos desses momentos! O medo terminava "nos unindo"!
No meio dessas, tinha uma "lenda" de uma mulher que era tão má, que virou cobra ao morrer, e tava enterrada no cemitério de outra cidade próxima. Mas a casa dela, que ficava nos arredores, grande e imponente, me metia um certo pavor ao passar por lá... Ai, que horror!




De Cobras
http://desenhosallprint.blogspot.com/2010/07/desenho-de-cobra-para-imprimir-e.html

Falando em cobras, eu morro de medo desses bichos. Mas, lembro de João meu mano e eu, sentados na calçada a "mexer" com cobras de duas cabeças com um pedaço de pau... 


Uma vez quando eu estudava na Escola Doméstica (ED), devia ter uns sete anos, eu e uma amiga passeando pelos "matos" (porque na ED tinha uma grande parte que era quase uma fazenda, um sítio...), começamos a apanhar pedaços de pau. Um desses nada mais era do que uma cobra enorme, marrom, parecia mesmo um galho... 


Gritamos, corremos e chamamos "Seu Mano" (que era um velho senhor e empregado antigo da Escola). Não sei se foi nessa sequencia, mas sei que fizemos as três coisas e nunca mais fomos dar esses passeios...


Minha mãe contava que vovô criava cobra lá no sítio deles, e as mandava pro Instituto Butantã. Ainda bem que nunca vi essas tais cobras passeando no telhado da casa do sítio (ou da loja dele, sei lá...).


Também, quando "me entendi" por gente, o sítio já tinha sido vendido a uns parentes, e só íamos lá na época das jabuticabas... Uma delícia! Comer as jabuticabas tiradas dos próprios "pés". Era uma farra! E, sem cobras! Logo, sem medo, claro!




De Pesadelos e de Bruxas e Almas
http://www.todopapas.com.br/pintar/monstros/Fantasma-travieso-104

Eu tinha uns pesadelos recorrentes: Via umas mãos verdes, com manchas marrons e que ao mesmo tempo pareciam sapos, nas janelas. Às vezes eu, ainda nos meus poucos anos de vida, achava que eram reais! Tinha medo de olhar para as janelas quando acordava às noites...


Antes desse pesadelo esquisito, tinha outro também recorrente. Sonhava que uma  bruxa me perseguia pela Rua Afonso Pena, rua paralela à nossa, até em frente a casa da minha vó Lili (mãe de meu pai, e que morreu quando eu tinha três anos). Na época a rua era "de areia". A casa ficava em frente onde é hoje a Banca de Tota.


Pois bem, lá (nos sonhos), no meio da rua, existia uma "barra" de brinquedo, igual a uma que tinha no parquinho da ED. Então eu me pendurava nessa barra, e a bruxa dizia "Ah, Cubos", abria a boca e me pegava. Não me peçam pra explicar, porque não tenho a menor ideia do que isso significava...
Uma barra parecida com a da ED e de meus sonhos/pesadelos

Quando eu entendi que isso era um pesadelo, deixava a bruxa me pegar logo, pois quanto mais cedo ela me pegava, mais rápido eu acordava. A não ser que acordasse pra "dentro" de outro sonho.. Ah! mas aí já é demais... Deixa pra lá...
http://baudaweb.blogspot.com/2010/10/desenhos-e-molde-de-halloween-dia-das.html



Tinha outros pesadelos que até hoje não sei se eram sonhos ou realidade. Umas almas conversavam na porta do meu quarto. Às vezes arrodeavam minha cama. Uma vez, uma tentou me empurrar nas costas e fiquei sem fôlego. A pior coisa era quando ficavam na minha porta, pois me impediam de passar pro quarto da minha mãe...


Meu avô dizia que eu era médium (ele era Espírita) e minha mãe brigava com ele dizendo que isso iria me assustar. Um dia resolvi acabar com essa estória dessas visitas de almas. Me sentei na cama, cruzei as pernas, fechei os olhos e determinadamente disse: "Não me apareçam mais, se aparecerem, aí é que não rezarei pra vocês....". Deu certo. 


Por fim, o pior pesadelo recorrente, era um em que eu estava querendo atravessar uma rua. Eu estava na calçada de um cemitério e queria passar pro outro lado. Todo mundo que estava comigo, cruzava fácil a rua. Eu não conseguia sair do lugar. E, lá vem um enterro... Era horrível!! Esse era demais! Cruzes!


http://artededesenhar.arteblog.com.br/155189/Cemiterio/


Bicho Papão?
http://www.desenhosparacolorir.org/desenhos/desenhos.php?id=8401

A gente precisa ter cuidado com o que diz pras crianças, ou se interessar pelo que elas pensam. Criança, às vezes, têm seus medos, mas não contam... Pois é, uma vez eu desenhei um ladrão. Na minha cabeça, aquilo era um ladrão. Devia ter uns dois ou três anos. Aí me levaram pela primeira vez pro colégio. 


Chegando lá me deparei com o prédio que era a cara do "meu" ladrão. Entre choros, berros e gritos, não quis ficar ali. Nunca mais voltei. Me mudaram de escola... Esse ladrão era na verdade o meu bicho-papão!




De Mortos e Caixões


Não sei se eu tinha medo de gente morta, mas sei que tinha dos caixões. Aí, um dia, estávamos eu e meu mano João na casa de minha avó na Otávio Lamartine. As empregadas de lá nos levaram até a rua Trairi pra ver uma "coisa".


La ficamos esperando... E, de repente sai da casa de frente uma multidão segurando um caixão roxo e preto. Eu, mais rápido do que uma ema selvagem (como dizia meu pai), segurei meu irmão pela mão e disse: "Corra!". Puxando o pobre, que quase era arrastado por mim, chegamos esbaforidos na casa de minha avó. Bati na porta desesperada. Ela abriu e tudo ficou bem. 
http://gartic.uol.com.br/paloma4858/desenho-jogo/caixao

Imaginem, que até quando eu estudava no CIC, e já era adolescente, eu atravessava a rua pra não passar pela calçada de uma funerária... Nem respirava e passava correndo... Assim eu me comportava ao passar em frente aos cemitérios... O que fazem nossos medos inexplicáveis! 


Ah, tenho que contar essa outra, embora que já na minha adolescência (ou perto dela). Tinha um cara que morou na outra "parte" da minha rua e tinha uma funerária. Às vezes a "kombi de defunto", como eu chamava, parava por lá. 


E, como criança/adolescente é "bicho ruim", minhas amigas combinaram de me colocar nessa kombi. Já sabiam do meu pavor, e saíram atrás de mim. Mas, o medo me fez tão forte que consegui correr tanto, me safar delas, e me trancar num banheiro da casa de uma delas! Ufa!


Também lembro de meu pai nos levando pra Faculdade de Odontologia (onde ele era professor) quando faltavam as empregadas... E, de meu irmão, embora mais novo que eu, tentando me fazer medo, me "guiando" até aonde estavam os corpos para aulas de anatomia... Eu corria "léguas"... E olha que esse meu irmão foi aquele que "salvei" do caixão da rua Trairi... Pode?




De Outras Histórias (de outros tipos de medos)

Meu pai também me levava em algumas viagens pelo interior quando ele foi da Secretaria de Educação. Quando ia pra Caicó, lembro que ficava na casa de uma amiga dele. E, eu chorava porque ele ficava num hotel... Sentia falta dele... Tinha medo dele demorar... Aí eu inventava que tava com um cisco no olho... 
Tinha "ciúmes" dele com outras meninas da minha idade. Não gostava quando ele fazia algum gesto meigo com elas ou vice-versa... E ele era muito simpático com todo mundo! Uma vez, uma menina dormiu no colo dele na kombi em que viajávamos. Curti um "ódio" enorme por essa menina durante um tempão... Morria de medo de encontrá-la de novo...

Meu pai, era um ótimo pai! Brincava com a gente, mas, às vezes nos atrapalhávamos com suas brincadeiras. Ele uma vez cantou pra nós, filhos, uma música meio "imoral" (nem tanto!). Achamos "linda" e fomos cantar na porta de casa, na rua... 

Levamos um carão e quase ficamos de castigo... Era uma  música besta, que quase todo mundo sabe: "Era noite de lua, abri a porta e fui (...) na rua... Um guarda ia passando..." Etc e tal. Mas não era pra cantar na rua!
Essas coisas de cantar na rua, também inventamos uma música pra uma de nossas vizinhas , e cantávamos algo assim "Dona Fulana, a chaleira tá sem tampa, chora bebê na rampa.... ". Sem noção essa letra! Só criança mesmo!

Sem noção também, era que passávamos em frente da casa de um cara que era "brabo", e gritávamos "Pé de Guerra"(!!!), e era a maior confusão. Ou n'outra casa que tinha umas pessoas meio obesas e gritávamos "gordas (!!!)", e corríamos. Sem Noção geral. Maldade infantil? Que doidices!!! Embora náo politicamente correto, fazer essas artes era ótimo! "Correr do medo"!


Ah! Antes que eu esqueça, eu não gostava muito de pentear meus cabelos. E aí meu pai me contava uma estória um tanto "arrepiante". Da estória em si, não lembro bem, mas sei da parte que um cachorro já morto e enterrado, com uma voz "fúnebre", e que meu pai imitava, dizia assim: Maria Viloa, já comeu, já bebeu e já se foi deitar... "Maria Viloa" não penteava os cabelos. Eu a imaginava toda arrepiada e aquele voz horrorosa... Corria e pedia pra minha babá me pentear...
Maria Viloa seria assim? http://paranoiva.blogspot.com/2009_10_01_archive.html

Também, vou te contar! Era cada estória de "terror" mesmo. Chapeuzinho Vermelho, João e o Pé de Feijão, João e Maria, etc. e etc. e etc. Lobos, gigantes, bruxas... Tem alguma dessas que não mete medo em criança? Mas, que era bom ouvir as estórias, era...

No fundo essas brincadeiras "bestas" (ou até as estórias horripilantes) deveriam ter um certo sentido... Era sentir prazer pela possibilidade de conseguir vencer ou enfrentar o medo? Enfim, de conseguirmos correr e chegar "lá"? "Lá", onde nenhum adulto ia nos pegar, muito menos cobras ou monstros ou fantasmas...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Memórias da Infância (4): As Praias

Nasci perto do mar. Da primeira casa onde morei dava pra ir a pé pra praia. Praia "dos Artistas", Praia do Meio, Areia Preta... Acho que uns dois quilômetros, no máximo. Só tinha que andar uns quarteirões e descer a Ladeira do Sol. Meu irmão quando pegava "onda" (surf) ia quase todo dia a pé com sua prancha...

Já a Praia do Forte, que era melhor pra criança, era um pouquinho mais longe. Mas não tanto! Era quase uma piscina, com as águas "represadas" pelas pedras (arrecifes). 
Mas, acho que meu primeiro banho de mar foi em Genipabu. Tenho uma foto, com meses de nascida, num banho de mar com meu pai lá. Não lembro, mas tem a foto pra provar! 

eu e meu pai, na praia de Genipabu
Lembro dos primeiros veraneios na Redinha. E de passeios com minha vó pelas praias "centrais" de Natal, como também de idas à Ponta Negra pra casa de minha prima Helianinha. Diga-se de passagem, casa de veraneio. Naquela época, Natal acabava numa tal "corrente", perto de onde hoje é o Machadão, e antes, a tal corrente era ali na Alexandrino... Ôps... 


Na Redinha

Bom, mas vamos aos veraneios da Redinha...  Meus pais alugavam uma casa logo no comecinho (ou seria o finzinho?) da Redinha. A casa era grande e arrodeada de alpendres... Atrás, tinha um mangue onde íamos lá pegar caranguejos...
Praia da Redinha hoje. Nossa casa era bem mais pra esquerda, não aparece aí... http://www.panoramio.com/photo/49383328

Na casa vizinha à nossa casa tinha uma menina. Meu irmão dizia que era a sua namorada (ou era ela quem dizia?) e os dois viviam pulando de mãos dadas da mureta dos terraços pra areia da praia (acho que não tinha calçada).

Nossa outra vizinha era uma amiga de minha mãe, Jandira. Nem sei se ela alugava essa casa todo ano, mas lembro muito bem dela porque ela tinha um lugar no "meu coração". Sentimentos de criança desses fortes e verdadeiros. Nunca disse a ninguém... Ela tinha três filhos, mas também não lembro se os três já tinham nascido nessa época. Jandira participava muito da nossa vida "praieira" ou fora dela. Quando eu era adolescente ela partiu desse mundo... Enfim...

Tinha uma coisa engraçada que, na época, seu marido falava. Como meus pais sempre gostaram muito de viajar, creio que tentavam levá-los juntos, mas ele sempre retrucava: " Viajar pra que? Todas as cidades são iguais. Casas de um lado e de outro e uma rua passando no meio". Cada qual tem seus gostos, né?

Minha tia Violeta, tinha também uma casa na Redinha. A dela era "mais pra lá", já perto da igrejinha. Aos meus olhos, a casa era enorme, com um terraço enorme... Tudo grande! 

Para ir pra Redinha tínhamos que ir de barco. Muitas vezes, mesmo fora de veraneio, eu ia com Lalá, minha outra tia, pra casa de Violeta. Lalá tinha umas amigas, que agora não lembro os nomes, e todas íamos almoçar na casa de Violeta. De lancha, ou de barco a vela...

Barcos na travessia Natal-Redinha. Naquela época não havia esses prédios... http://jabacomjerimumrn.blogspot.com/2010_04_01_archive.html

Uma vez, minha mãe fez um aniversário de meu irmão João (que era em fevereiro) "uma festa à fantasia". Só que as fantasias eram de papel crepom. Todas lindas, coloridas... Palhaços, chineses, bruxas, fadas, etc. e tal. O lance era que depois todos deveriam tomar banho de mar com as fantasias! Foi uma choradeira quando as fantasias começaram a se desmanchar no mar...
O banho de mar à fantasia. Tia Míria com João, meu mano, de palhaço. E outras crianças...
Lembro também de muita areia quando íamos pro lado da casa da minha tia ou pra Missa. Vento e areia! Uma vez caiu um cisco no meu olho e quase não sai mais. Foi horrível! 

A praia da Redinha era legal, mas o banho de mar tinha um limite, porque tinha um canal fundo e diziam também que havia redemoinhos que "puxavam" a gente caso passássemos desse limite. Dava um certo medo...

Tinha o trapiche, que alguns se aventuravam e pulavam de lá. Era onde os barcos ancoravam, e às tardes estávamos sempre por lá pra ver a chegada deles...

O Trapiche na Redinha (foto Jaeci)
Na lateral, tinha uma parte que chamávamos de "costa". Com grandes ondas, mar aberto, diferente da "frente" da Redinha. Dava medo tomar banho por lá! Hoje em dia chamam de "Redinha Nova" (ou Nova Redinha, sei lá...).

Minha mãe conta que fazíamos grandes passeios a pé até Santa Rita, que ficava depois da "costa" e um pouco antes de Genipabu. Desses, eu não lembro muito bem...

Quando eu tinha dez anos meus pais construíram uma casa em Pirangi, beira-mar, e nosso veraneio mudou-se pra lá...

Em Pirangi

Minhas primeiras lembranças de Pirangi são de alegria. Meus irmãos num barco, longe, e minha mãe olhando do terraço. Meu pai caminhando na praia e depois deitado de braços abertos, ao sol. Eu, com amigas, em banhos de mar intermináveis. Eu, meus irmãos e as empregadas indo pegar caranguejos no mangue. E, banhos no rio... 

Pirangi do Norte, hoje. Nossa casa ficava perto daí. Na época em vez desse "pier" tinha um curral  pra pegar peixes...  http://www.pbase.com/image/109814711
Pirangi não tinha energia elétrica. Nem água potável. Íamos buscar água em Pirangi do Sul, numa bica perto de uma cruz. Eu não gostava de ficar por perto da tal cruz, mas... 


A casa tinha um tanque grande no banheiro onde se despejava a água. Outra parte da água ficava em tonéis  na cozinha... Tinha também uma espécie de caixa d´'água e um poço (mas isso já foi depois...).  Do tal poço se puxava água à mão, só tempos depois foi comprada uma bomba elétrica...

Luz, de candeeiro, lamparina, e depois umas "lâmpadas" mais sofisticadas com um bujãozinho de gás... Até chegar a energia de "verdade".

Aos domingos, alguns amigos de meus pais nos visitavam. Um deles, Genário, casado com Geralda, era muito divertido. Levava a gente pra "roubar" cajus num terreno-sítio que ficava por trás da nossa casa e, se aparecia alguém ele logo dizia com sua voz engraçada: "Dona Maria me dê um cajuzinho"...
http://renatocearense.blogspot.com/2009/12/o-valor-nutritivo-do-caju.html
Os banhos de mar começavam cedo. De brincadeiras na areia fazendo castelos até "pegar carona" nos barcos de pescadores e dar uma "voltinha" no mar, tudo era válido! 
Tipos de jangadas que passeávamos... http://pt.wikipedia.org/wiki/Jangada
As tardes os banhos de mar continuavam. As tardinhas caminhávamos pela praia... Esperávamos os barcos de pescadores, ou as redes jogadas ao mar ali por perto, pra ver os peixes...

http://www.flickr.com/photos/felipaim/3172049517/
Minha mãe deixava a gente bem à vontade, sem cobranças de horários pra voltar... Liberdade com sol e mar...

Era tanto banho de mar que eu ficava "preta". Lembro que uma vez, já em Natal, um menino passou pela nossa rua e numa briga de palavras ele me chamou de "neguinha". Passei meses (ou dias?), sem querer voltar aos banhos de mar... 


Mas, eram apenas coisas de criança, preconceito (?) besta, porque depois, na minha adolescência eu ficava "esticada" na areia das praias, passando todo tipo de óleo, caseiro ou industrializado, pra ficar cada vez mais "preta". 


E até hoje curto minha cor. Pena, que os órgãos de saúde agora advertem "sol pode fazer mal...".  Por isso não consigo ficar mais nem preta, nem dourada, só amarelada! hehehehe!

Além do veraneio, muitas vezes íamos também pra lá em fins de semana. Lembro de um fusca de pai, lotado de gente e de coisas, e todos felizes! A cada povoado que passava meu pai cumprimentava as pessoas: "Bons dia Dona Maria", querendo imitar o jeito de falar deles. Não pra ironizar, e sim pra "chegar mais perto". Meu pai era assim, legal demais!

E, na "viagem" pra praia ele cantava todo o tempo. Foi assim que aprendi várias canções de "sua" época!

A noite meu pai contava estórias pros meus irmãos menores. Ficávamos nas redes do terraço... Ele gostava de contar umas estórias meio "terroristas" e meu irmão Carito ficava "assombrado" (mas gostava, paradoxalmente!).

"... Ondas tenebrosas, volumosas, tortuosas...", a voz cada vez mais ficando com um tom mais alto e mais "grosso". Carito à "berrar"... Minha mãe perguntando: "Jessé o que é isso que você tá fazendo com o menino?" E a gente rindo...

"ondas tortuosas" das estórias que meu pai contava... http://www.culturamix.com/meio-ambiente/manifestacoes/ondas-gigantes
Em Pirangi passei os veraneios do "resto" da minha infância e de toda a minha adolescência... Sobre a adolescência, conto depois...









quarta-feira, 22 de junho de 2011

Memórias da Infância (3) - Na Rua Otávio Lamartine & Outras Ruas "familiares"

Na Rua Otávio Lamartine...
Minha vó Belita e meu vô Estevam (ano 57)
Minha vó Belita morava na Rua Otávio Lamartine. Na mesma rua moravam um primo de minha mãe, casado, e uma prima também casada. Todos com filhos, ou seja, nossos primos "segundos" (Vicente, Almir, Silvio, Gilda...). Na rua "de trás", a Trairi, moravam meu tio Du (irmão da minha mãe), minha "tia Míria" e meus primos, Markito e Cabeto.


A casa da minha vó Belita

Na casa da minha vó tinha um quarto só pra mim. Era o primeiro quarto, o da frente! Arejado, ventilado, confortável e imenso para os meus olhos infantis. Lá era meu refúgio.

No quintal, tinha uma goiabeira, também de goiabas brancas igual a da minha casa, e eu resolvi fazer um balanço lá. Peguei uma vassoura com aquele cordãozinho que usam para pendurá-las e, num prego na goiabeira adaptei o meu balanço. Resultado: uma queda na hora! Como diabo aquele cordão iria aguentar meu peso, por pouco que fosse? 

Por azar, bati a cabeça numa calçadinha cimentada e não na areia. Vendo o sangue, me apavorei e fui pro meu refúgio. Era apenas um pequeno corte, mas na minha cabeça eu ia morrer ali mesmo...

Nós comíamos numa mesa que ficava numa espécie de varanda aberta e grande no quintal. Vendo a natureza! Me lembro de vovô comendo coalhada com mel... Eu também adorava coalhada com mel, até hoje gosto! 

Falando em vovô teve um tempo que eu morria de medo dele. Me disseram que ele era Espírita e eu na minha cabecinha entendi que ele era uma "alma". Toda vez que escutava seus passos vindos pelo beco da casa (ele costumava entrar pelo beco, na lateral, e dificilmente pela porta da frente...), eu corria e ia pro meu "refúgio"... 


Bom, na rua mesmo (a "de vovó") brincávamos muito pouco. Diferente da nossa rua, eu não tinha muita intimidade com os vizinhos dela, e era muito tímida pra tentar novas amigas. Então curtia mais a casa da minha vó, meus brinquedos e de vez em quando ia brincar com meu primo Markito na casa dele, que ficava justo atrás da casa da minha vó. 


Na Trairi, casa de meus primos (por parte de mãe)...

Lembro que quando nasceu meu outro primo, resolvemos "derrubar" a cestinha de shampoos, perfumes, sei lá mais o quê, do bebê Cabeto. Não sei se "fui pela cabeça" de Markito, que talvez tava com ciúmes, ou se eu também fui autora da arte. Nem lembro como findou isso e nem sei se cumprimos de fato a missão ou se só foi uma intenção...

Eu e Markito, comemorando um "Dia da Criança".
Lá tinha um grande jardim-quintal e nesse espaço podíamos brincar à vontade. Tinha também um tanque, que uma vez Cabeto, já maiorzinho, caiu nele. Acho que fazia parte de uma brincadeira de tentar "pular" a "boca" do tanque de um lado ao outro. Meu tio Du pulou no tanque como louco e o salvou!


Eu gostava de ir pra casa de "tia Míria" (assim eu a chamava, embora Du era que era o irmão da minha mãe) porque a comida de lá era boa. Não gostava nada da comida da minha casa. Na da minha vó eu comia o que queria... Mas, na casa de tia Míria era só coisa boa! O chato era que ela sempre queria cortar meu cabelo. 


Uma vez ela, juntamente com meu pai, me prometeram uma bola grande e colorida se eu deixasse cortar o cabelo. Deixei. ganhei a bola,mas minhas amigas furaram minha linda bola na primeira brincadeira... Chato isso. Não gosto de cortar meus cabelos, não deveria ter deixado...

Passeios com minha avó e outras histórias

Minha avó levava a gente pra passear na praia. Eu e Markito.  Íamos de ônibus. Na verdade eram longos passeios de ônibus e depois parávamos na praia, que era bem perto de nossas casas. A gente ficava por lá um tempão brincando na areia...

Ela também me levava muitas vezes para a escola de ônibus. Normalmente quando eu dormia lá, e isso acontecia muito. Como eu era criança, não precisava pagar a passagem, mas eu queria pagar porque os "tickets" eram fichas coloridas de plástico. Ela fazia meus gostos...

Vovó costurava meus vestidos. Eu tinha um monte de vestidos.. Até adolescente ela costurava pra mim, e eu tinha uma roupa nova a cada fim de semana. Isso quando ela não resolvia comprar pronta! 

Com vovó nunca me faltou nada. Bastava eu pensar em ter algo e o algo aparecia na minha frente, inclusive "grana". Claro, não demais, mas eu tinha... Às vezes eu pedia e ela dizia que só tinha dinheiro "grande". Eu retrucava dizendo que não me importava ou que então ela cortasse o grande em vários pequenos...


Vovó estava sempre presente na vida d'a gente. Quando ela morava na Otávio Lamartine ela ia todo dia nos visitar, ou pelo menos eu, ia lá.... Às vezes eu passava dias por lá... Depois ela mudou-se pra nossa rua. Aí era um vai e vem, dela na nossa casa e de nós na casa dela. 


Meu irmão João, quando brigava em casa, se "mudava" pra lá, e ficava sentado uma cadeira de balanço na calçada, tentando provocar minha mãe ou se mostrando. Como ela nem ligava (ou não demonstrava), ele acabava voltando...


Minha vó tinha uma cômoda alta que eu gostava de subir. Abria as gavetas, fazendo-as de degraus e subia... Lá em cima, eu mexia em suas jóias.... Ficava horas nessa brincadeira. Um dia ela me deu quase todas...


Parecida co a cômoda da minha vó (http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-157754233-comoda-antiga-de-madeira-de-embuia-110de-compr-110alt-_JM)

Gostava também de abrir as gavetas de vovô, escondida dele. Ele não gostava. Lá tinha um monte de treco. Um milhão de giletes, ligas de prender dinheiro, etc e tal. 


De Carnavais 


Minha tia Míria era muito alegre e fazia um bom par com meu pai. Nos carnavais, saíamos eu, meu irmão João, meus dois primos, Cabeto e Markito, meu pai e tia Míria. Todos vestidos de papangu, com um pau na mão, a entrar pelas casas conhecidas. Um barato! De vez em quando levávamos uns "foras"... 


Papangús (http://br.olhares.com/cultura_nordestina__papangu_foto116689.html)
Também, nos carnavais minha mãe nos fantasiava, e saiamos por aí, as tardes, a passear, com uma lança de perfume "de verdade" daquelas douradas. naquele tempo até criança usava lança... As fantasias eram "caprichadas". Nisso, minha mãe era "craque"!

http://artigosedwardsouza.blogspot.com/2010/04/anos-inocentes.html



De outras tias e primos ("por parte de pai")


Na casa de Violeta, uma das irmãs de meu pai, íamos pouco. Mais em aniversários dos primos, e às vezes em alguns fins de semana quando íamos passear pelo "Grande Ponto", pois ela morava "por perto". Mas lembro muito bem da casa! 


eu e meus primos Pepe e Paulo, filhos de Violeta.

Da casa de Mariana, a irmã mais velha, poucas lembranças...Lembro que ela era muito engraçada. Gostava de ouvi-la falar. Mariana tinha um monte de filhos, mas esses primos eram bem mais velhos que a gente, a não ser o caçula... 


Uma das primas, filha de Mariana, foi professora particular de João, meu mano, que quando descobriu que o marido da minha tia guardava um "caixão de defunto" em seu escritório, arribou de lá, e não quis mais as aulas... (Uau!)


Já da casa de Lalá, que morava com Sinhazinha, tia de meu pai, tenho mais recordações. Adorava a carne moída que Zefinha fazia. Ia por lá muitas vezes, passar o dia ou dias. De lá ia passear pela rua (moravam perto da catedral velha já descendo pro rio) e ia numa biblioteca que tinha na praça da catedral. Adorava ler naquela biblioteca e adorava ver o rio Potengi de perto e de longe, da varanda da casa...


Pracinha e antiga Catedral. A Biblioteca infantil ficava por aí
Falando em carne moída eu gostava muito também da carne da casa de Helianinha, uma prima "segunda", filha de Heliana, prima da minha mãe. De vez em quando ia por lá, brincávamos, andávamos de bicicleta...


Voltando ao lado de pai... Tinha mais uma irmã dele, Ana Maria, que era solteira e morava no Rio. Depois, quase todas as irmãs de pai, exceto Mariana, foram também morar no Rio. Era bom, porque sempre estávamos indo passar férias por lá!


Eu e João, com Ana Maria, irmã de meu pai, e minha mãe (com bolsa). RJ.
Sobre o Rio, minha primeira viagem, já contei em outro texto...


E, pra terminar me lembrei de uma musiquinha que eu gostava de cantar:


"Lá na ponte da Aliança Todo mundo passa 
Lá na ponte da Aliança
Todo mundo passa

As lavadeiras fazem assim
As lavadeiras fazem assim
Tra-lá-lá-lá
Tra-lá-lá-lá ..."