domingo, 30 de janeiro de 2011

MINHA MÃE CONTADORA DE HISTÓRIAS (OU "CAUSOS" CONTADOS POR MINHA MÃE) 1

Minha mãe, a parte de ser super culta, conta “causos”. Não sei se é porque nasceu no interior (se bem que Macaíba é logo ali), mas, sei que ela gosta de contar “causos”. Às vezes ela muda um pouco a história já tantas vezes contada, ou sou eu que às vezes tinha incrementado ou inventado alguma coisa “por minha conta”...

Um deles tem a ver quando ela tinha cinco anos. Podíamos intitulá-lo “Sangria Desatada”; “O que pode fazer uma criança sozinha”, ou ainda “Anjo embriagado”, e por aí vai...
Bem, mas vamos ao “causo”.

Segundo ela, era um dia de festa. Não sei bem se era a festa do aniversario dela, ou se era uma festa comum daqueles tempos, em sua casa. Mas, ela estava toda arrumada com um vestido azul, de organdi, cheio de preguinhas e coisinhas chatinhas pras crianças e que os adultos achavam lindo naquela época, e talvez ainda achem. Coisas que apertam as crianças e às vezes até “picam”. Segundo ela, minha vó, a mãe dela, adorava vesti-la como se fosse uma princesa, com roupas de tecidos armados, embora muito bonitos, nada cômodos para as crianças.

Eu tinha uns vestidos assim... Ei, mas a história é de mãe. Voltemos a ela.

Os cabelos repuxados pra colocar um laço, ou seriam dois (?), que apertavam “seu juízo”. O vestido não tinha féche-eclair, pois talvez não existisse naquela época, e, apenas uma pequena abertura, que quando a vestiam ela quase sufocava e gritava “tou morrendo, tou morrendo”...

Deixaram-na, assim, toda pronta e incomodada, sentadinha (e era pra ficar bem comportadinha), a espera das visitas.  Só que a deixaram na sala de jantar, perto da cozinha. E nada das visitas chegarem. Ela, então, olha pros lados e vê uma garrafa de vinho tinto.  O açucareiro por perto. E, água era fácil de achar. Surpresa: ingredientes para uma sangria! Naquela época se serviam “sangria” às crianças. Para quem não sabe, sangria era uma mistura de vinho, água e açúcar, e às vezes se acrescentava um pouco de maçã picada... Só que para as crianças, a quantidade de vinho era irrisória...

Pois bem, minha mãe nessa espera e a garrafa ali esperando por ela... Ela se levanta, e começa a fazer suas próprias sangrias. Nada das visitas, e a minha mãe a tomar sangrias. Uma, duas, sabe-se lá quantas.  Tampouco se sabe a quantidade de vinho que ela colocava nas suas sangrias por ela fabricadas.

Lá pras tantas minha vó descobre minha mãe deitada (Oh Céus!) em sua cama toda arrumada com lençóis de linho (ninguém deveria nem sentar nas camas arrumadas, imagine deitar...). Parecia que tava dormindo. Isso minha vó pensava. Na minha cabeça ela tinha se “estatelado” no chão mesmo, mas...

Diz minha mãe, que ela em sua primeira “cachaça” se via, como se estivesse acima dela própria como uma enorme flor azul, e, essa flor enorme pensava quantas palmadas poderia levar...

No outro dia diziam pra ela: “Mas você nem viu Fulano, nem viu Cicrano, que queriam falar com você”, etc. e tal. E perguntaram o que ela tinha feito. Ela disse: “tomei vinho com água e açúcar, aos montes”. Minha mãe nunca mentia...

Segundo meu irmão, João, tinha um gato nessa história que também ficou “bêbo”. Minha mãe desmente. Disse que nunca houve gato, só se era ele, meu irmão, reencarnado. Pois é, talvez eu também me lembro vagamente de um gato, ou talvez eu tenha me atrapalhado com outra história ou tenha incrementado o gato “por minha conta e risco”, como fez meu irmão. O que importa é que o fato aconteceu, se com menos ou mais personagens, se com menos ou mais fatos, não importa.

Importa que foi um “causo” interessante. E, eu literalmente “viajo” nesses causos!

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