sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

CIDADES PEQUENAS 3 - Quarenta e Cinco Dias em Annapolis, USA

O ano era 2006. Fim de 2006, para ser mais precisa. Não era a primeira vez que tinha estado em Annapolis, e por isso mesmo arrisquei, junto com San, ficar quarenta e cinco dias por lá. Quase uma prévia para morar por lá, um dia que fosse (um desejo manifestado da primeira vez que fui apresentada a essa city)...


Marcel, meu filho, the youngest, ainda morava lá, trabalhando numa empresa de informática, no caminho para Baltimore, mas estava prestes (sem saber) a se mudar pra NYC...

Iríamos passar o Natal, Ano Novo e mais o resto de janeiro por lá. Marcel morava numa casa super ótima, com três andares, onde um deles era a cozinha que era a peça ou a pérola principal da casa. Lá se reuniam os amigos para suas festinhas. Mas, a casa era dividida com mais dois colegas, os tais roommates, e não podíamos ficar lá.

Assim, alugamos uma casa, bem massa, no lugar que eu queria, se um dia fosse morar por lá. Nossa casa ficava na parte onde era antigamente a vila de pescadores, numa rua com casas lindas de madeira, onde se revezavam casas mais simples, porém com uma tipicidade de dar gosto, e mansões sofisticadas, mas mantendo o padrão de madeira, típico do local.

A CASA

A nossa era uma casa amarela, das mais simples, obviously, mas lindinha. Tinha também três andares, onde o último era uma espécie de mezanino, um estúdio, com uma daquelas janelas que dá pro céu, além de todas as comodidades de uma boa suíte grande. 


Cama legal, uma cadeira daquelas do tipo “Freud” e outra tipo “Sherlock Holmes” (essas comparações são coisas da minha cabeça!), uma mesinha redonda, uma escrivaninha, e uma pequena biblioteca. Uma janela com vista para a lateral e a outra com vista para as estrelas ou para o sol, e às vezes para os flocos de neve. Esse terceiro andar era o nosso. Nesse andar ainda tinha nosso banheiro, e máquinas de lavar e secar roupa.

                                          A nossa casa! A amarela!

Dividíamos a casa também com uma roommate americana, que tinha seu quarto no segundo andar. As salas, cozinha, varanda, quintal e jardim, eram divididos por nós três. Normal para os americanos (em especial, estudantes, embora não fosse nosso caso) esse lance de ter roommates.

Da rua da casa, entre terrenos vazios, ainda existentes podíamos ver o mar, ou a baía, que seja. As casas com see view são bem mais caras, mas a nossa ficava logo ali pertinho desse “mar”...

Não sei se já disse alguma vez, mas água pra mim é primordial, adoro lugares onde posso ver água, seja de mar, de rio, de lagoa... Olhar para o mar, em especial, me dá uma paz e ao mesmo tempo me anima! Não sou muito de banhos prolongados de mar, rios, piscinas, essas coisas. Dou uns mergulhos rápidos, mas prefiro ficar olhando, por perto... Para banhos, um bom chuveiro tá bom demais (ou uma jacuzzi, claro).


O NATAL E O ANO NOVO

Bom, vamos aos quarenta e cinco dias. O Natal, na casa de “Randy e Karen” (uma família pra Marcel nos USA), com seus filhos, seus pais, e nós. Um bom almoço, no dia 25, com comidas muito similares as nossas nos Natais. Peru, porco, etc. Troca de presentes, etc. e tal. Na véspera, fomos jantar, eu, San e Marcel num restaurante e oyster-bar (McGarveys) que parecia um dos mais animados.

No réveillon, fomos pra DC, onde passamos a “passagem” do ano num restaurante-boate, ou era uma boite com restaurante... Animação mediana, porque animação de brasileiro é outra coisa. Um negócio meio brega de botar uns chapeuzinhos na cabeça ou umas coroas “de princesa” para as mulheres, e mais apitos, serpentinas, coisas do gênero. 


Mais parecia um aniversário misturado com carnaval e sei lá mais o quê. Enfim, um réveillon típico americano. Mas, no fim das contas, o que conta é a família, e como estávamos juntos eu, San e Marcel, já tava bom demais!

O DIA-A-DIA

Bom, mas bom mesmo era nosso cotidiano. No começo ficamos na casa de Marcel, porque um dos colegas estava fora, passando o Natal com a família. De lá até o centro, até a marina menor que faz parte da paisagem do centro, dava uns 20 a 30 minutos caminhando. Todas as manhãs fazíamos esse percurso, andando ou correndo, tomávamos um café no Starbucks (depois descobrimos o café de DelRene, amiga nossa, que era “the best”!), e voltávamos.

Quando nos mudamos pra nossa casa, mudamos nossa rotina. A casa ficava antes da ponte (tem uma ponte que pra mim é um marco...), e a cinco ou dez minutos desse dito centro. Matriculamo-nos numa academia de gym, que na verdade era quase um clube. Na academia, muito chique, tinha de tudo: toalhas, shampoos, secador de cabelo, cremes, hidratantes, enfim, você só precisava levar a roupa que iria trocar, mais nada. E os melhores equipamentos pra “malhar”, nunca vistos antes, por mim, pelo menos.

Da nossa casa até lá, íamos andando, e em menos de cinco menos lá estávamos. No caminho para a academia íamos admirando as casas, cada uma com suas peculiaridades, embora todas de madeira. Era janeiro, e fazia frio. Íamos com um casaco por cima da nossa roupa de gym, levando uma pequena sacola com roupas pra trocar depois do banho. Às vezes ventava e o frio apertava, às vezes até nevava... Mas eu me sentia muito bem, vivendo aquela experiência...


                          A academia de Gym

Os funcionários da academia eram todos simpáticos, como também os professores. Fazíamos spinning todos os dias (até aos domingos). Às vezes às sete da matina, outras vezes às dez. Dependia da hora em que acordávamos. Às vezes também misturávamos com um pouco de musculação. Todo dia o spinning era diferente, e, pra cada dia da semana tinha um professor (ou professora) especifico. 


Nunca era monótono, e, além disso, a turma de “alunos” era fantástica. Todos muito animados, a maioria tinha em torno de cinqüenta anos ou mais. Aliás, tinham pouco jovens na academia, vi mais jovens correndo nas ruas...

A primeira vez que vi uma senhora chubby (um pouco mais que...) de cabelos completamente brancos, sentada na bike ao meu lado, eu pensei que ela não conseguiria fazer a aula toda. Ledo engano, pois eu que quase fico sem fôlego, já que era uma aula pesada, e, essa mulher nem aí...

Quando saíamos da academia, depois de um bom banho, cheirosos e tudo mais, passávamos sempre numa lojinha que ficava ao lado da academia e num mini-mercado (na verdade a academia ficava numa espécie de shopping “aberto” horizontal, onde todas as lojas e restaurantes tinham suas portas na frente do mesmo).  

“Good Morning, Jay”, Santiago falava e obtinha a resposta de sempre, “Good Morning”. Jay era descendente de indianos. Na sua lojinha, de tudo era vendido. Meias, guardanapos, ferragens, enfim, de tudo. 


Depois, passávamos no super mercado (aliás, mini), comprávamos leite ou pão, enfim coisas para o breakfast, e ao chegar no caixa, o mesmo ritual: “Hi Gloria”! Glória era uma típica americana negra. Bastante simpática e conversadeira. Deu certo com Santiago que adora fazer amizades!

Ao voltarmos pra casa, preparávamos nosso breakfast americano, e, era ótimo fazer isso! Suco de laranja, omelete com tudo que se pudesse colocar dentro, salsichas... Se depois do café ainda fosse muito cedo, ficávamos “preguiçando” em casa, vendo coisas no lap top, TV, etc.

Depois, íamos pra farra. E, sem culpa. Tínhamos feito atividade física, e uma boa atividade! Começávamos o dia, que já não era mais tão cedo, passeando pelo centro, ou indo ao Trader Joe’s (um supermercado orgânico que ficava um pouco mais distante, mas nem tanto...), comprar comidinhas saudáveis para quando almoçássemos ou jantássemos em casa, ou mesmo pra deixar nosso café da manhã mais light.

Algumas vezes íamos ao shopping, embora que na Main Street encontrávamos lojas boas e os melhores bares e restaurantes! Vale salientar que também tinham alguns bares e restaurantes com see view, em um ou outro píer, perto das marinas...

Bom, no nosso passeio que já não era tão matinal assim, depois de um tempinho começávamos a fazer bar hopping (ir de bar em bar). 


Uma cervejinha num Irish Pub, outra no McGarveys, ostras e mexilhões no O’Brien's, um coquetel no Pusser’s (dentro do hotel Marriot, mas “de cara” pro mar...). O nome é péssimo, mas o bar é ótimo! Íamos parando onde encontrávamos um bar nunca visto "dantes", experimentando de tudo um pouco...


O'Brien's (Restaurante e Oyster bar

Depois de um ótimo happy hour, de volta a casa, descansar um pouco. Às vezes preparar o jantar, com um bom vinho e às vezes sair de novo pra jantar em algum dos inúmeros restaurantes a escolher. Na maioria das vezes, com nossos amigos que lá fizemos, alguns através “da carona” de Marcel. Marcel também ia sempre, e dificilmente íamos só nós dois. 


Experimentamos a gastronomia de diversos restaurantes, todos maravilhosos. Franceses, Italianos gregos, e outros restaurantes a beira das marinas... Vá à Main Street e nos restaurantes das marinas, não tem erro! Todos muito bons!!!


 Pusser's Caribbean Grille
Cada lugar tinha sua história e a nossa foi se misturando. Nos pubs irlandeses, jogávamos dardos, além de tomar cerveja, claro. No O’Brien's, além dos mexilhões e ostras, e bebidas, podíamos dançar depois das onze da noite, onde tinha uma espécie de boate e uma fila pra entrar. Um ou mais shots, eram normais de se tomar nessas noites com uma boa turma. No MCGarveys também se dançava, mas eu particularmente preferia o O’Briens. 


Os restaurantes estavam sempre cheios, especialmente para jantar. Em muitos, era importante reservar, ou casa contrário esperar, era a saída. (ver http://www.annapolis.com/downtown-annapolis-restaurants/)

Nos finais de semana, íamos comer crab num bar perto de um rio. Crabs enormes, que pra nós mais pareciam siris gigantes. Delícia. Ou então, íamos almoçar ou jantar nas casas dos amigos. Às vezes velejar... Perfeito!

                                         Eu e Karen no Carrol's Creek Cafe.

Um dia fomos pedalar com umas bikes emprestadas. Foi ótimo, até conseguimos nos perder e, depois de um tempinho, nos achar. Mas depois ficou mais frio e adeus pedaladas nas ruas.

Nenhum dia fiquei boring, ou me senti que não queria mais ficar ali...



E NO FINAL...

Para concluir, vou contar duas histórias engraçadas sobre “cachaças”: Uma vez fomos a Saint Michel com Karen, uma vila charmosa de pescadores, com poucas casas e barcos de veranistas. Almoçamos num restaurante a beira da baía, e depois de um rápido tour, voltamos.

Chegando em Annapolis, resolvemos parar no Pusser’s pra tomar um daqueles coquetéis deliciosos e coloridos. Em vez de um, tomamos não sei quantos, depois chegou Marcel... Enfim, até Karen ficou completamente out of control. Faz parte, fez parte e foi ótimo!

Outro dia, estávamos eu e San apenas, e vínhamos já de um  bar ropping pelo centro de Annapolis. Já era noite. Vínhamos meios trôpegos, alegres, e cantando. De repente, depois de passada “nossa” ponte, vimos um bar meio escondido, com uma ótima cara. Entramos lá, e acabamos “de nos acabar” de tanto drink. E, Santiago ainda fazendo amizade com o povo que encontrava pelos bares...

Ah, esqueci dessa! Pra completar teve um dia que eu caí. Foi péssimo, mas engraçado. Lá vinha eu feliz da vida, depois de uns vinhos, cantando na rua. Não era na chuva, mas havia nevado, e o gelo rindo pra mim nas calçadas. Quase em frente a nossa casa, puft. Caí. As botas ajudaram nessa queda, pois além de saltos eram de solado de couro. Totalmente desapropriadas para o gelo. Boa desculpa, porque eu com meus vinhos também tava totalmente desapropriada pra dançar e cantar pelas ruas escorregadias. E, que droga, caí de joelhos. Sempre sofrem esses meus joelhos. Gelo neles, e ponto. No final, todos rimos.

Mas, com essa minha história não pensem que Annapolis é só do Deus Baco. Todos os deuses andam por lá, especialmente os deuses da beleza e do amor, como Afrodite. Com certeza, tão todos por lá!

Chears!

As docas, em Annapolis.





Um comentário: