sábado, 17 de abril de 2010

NYC 2010 (III): Visitando o Google



Visitando a (ou “o”) Google 
(ou: Para meu brother Mario Ivo, sobre o Google)!!

    I- Introduzindo a conversa...
    Sinceramente Mário Ivo, me perdoe, mas não vou poder escrever o que você me pediu. Assim fica esse email-crônica só pra nós familia e amigos. Ah, você quer saber por que eu não vou escrever, né? Porque não posso escrever sem emoção. E, como dizia Cazuza “a emoção acabou”, ou quase, nesse lance da (ou do) Google. Talvez se você tivesse me pedido da primeira vez que fui lá, ou logo quando Marcel foi selecionado, aí sim, seria diferente! E por quê? Acho que porque ficou meio comum pra mim, modéstia a parte. Mas também tem outras coisas, talvez... Claro que você quer saber, né? Tá bem, vou contar uma história!!

    II- A (O) Google e Marcel (como tudo começou...)
    Antes mesmo de Marcel entrar para trabalhar na Google (vou chamar de “a”, de agora por diante) eu já tinha uma grande admiração por essa empresa. Na Fortune e em tantas outras fontes de informação, ela já sempre estava no rank das melhores empresas para se trabalhar, e muitas vezes foi tida como “the Best”.
    Um dia, Daniel, filho de minha amiga Vera, foi procurado pelos “head hunters” (“cacadores de talentos”, recrutadores, ou o que sejam) da Google e da Microsoft (emocionante, of course!). Um parêntese: Tanto Daniel, filho de Vera, como Marcel, o meu filhote, foram alunos da UFRN!! Na mesma epoca, Marcel, já morando nos USA, sempre as voltas com as famosas provas de certificacões internacionais, cada vez mais avançadas, e para meu orgulho de mãe “besta” (como toda mãe que se preza!), sempre sendo aprovado! Ele já trabalhava numa empresa de informática, em Baltimore, Maryland. Então eu me saí com essa pergunta pra ele: “Marcel porque você não se candidata a Google?” Ele diz algo como, “mamãe é muito difícil, e eu já tou bem nessa empresa, blá blá blá”. Na verdade o “danado” do menino já estava participando do processo de seleção da Google, já bem avançado (são diversas etapas até se conseguir “chegar lá”), e nem me disse nada.
    Uns meses depois, vou visitá-lo em Annapolis (cidade linda, perto de Baltimore e D.C.), e ele me diz “mamãe, na próxima semana vou ter que ir a NY e voce vai comigo, eu tenho que fazer o teste final da Google, umas entrevistas presenciais”. Como é? Oh, My God!! Esse menino vai longe, como dizia “os antigos” (palavra usada por ele, criança, quando morávamos em Madrid). Fazendo mais um parêntese: não foi à toa que comprei e dei de presente pra ele um quadro de Flávio Freitas que diz assim “Era uma vez um jovem que um dia descobriu que tinha um passo maior que sua cidade Natal. Desse dia em diante nunca mais foi o mesmo”.
    Bom, voltando ao assunto e saindo do meu papel de mãe very proud, fomos lá pra NY (tou aqui agora, que engraçado!), e ele foi pra entrevista (aliás, entrevistas, acho que eram cinco ou seis). Ele disse que se voltasse antes do almoço, seria porque não tinha dado certo, mas que se ficasse pra almoçar lá era porque a coisa estava caminhando bem (eu e Santiago estavámos esperando ele no "Hard Rock Café" da Times Square). Bom, ele só chegou pra se encontrar com a gente lá pras cinco da tarde!! Ufa!! Aprovado, of course, Marcel era agora um novo funcionário da Google!! Brasileiro, natalense, ex-aluno da UFRN, determinado, esforçado, planejador e estrategista, ele conseguiu! (hoje em dia, seguindo a frase do quadro de Flavio, ele ainda quer dar passos maiores, mas agora, um pouco mais maduro e mais experiente, mais “vivido”, pensa ainda em dar passos grandes, ate em voar, mas com “flores” e “pássaros” pelo caminho. Colocou a qualidade de vida na frente. Isso é bom! Really good!!)
    Então, passei a me informar ainda mais sobre essa empresa “maravilhosa” onde as pessoas eram felizes no trabalho! Podiam levar seus animais de estimação (um dia desapareceu uma cobra de um dos Googlers –assim são chamados os funcionários- e li isso na internet. Liguei pra Marcel e falei sobre isso apreensiva, e ele na maior tranqüilidade me diz ”mamãe a cobra é de fulano, meu colega, senta vizinho a mim”, e eu quase caio de susto!). Bom, então, eles podem levar seus “pets”, podem vestir o que quiserem, tem gente de jeans e camiseta, tem gente vestido de alta costura, elegantes, deselegantes, alternativos, tem de tudo, tudo pode, ninguém critica sua roupa, nada. Liberdade para vestir, pra levar seu cachorrinho, peixinho (cobra mais não, depois do episódio do desaparecimento daquela que contei, proibiram esses bichos). A maior liberdade, que parecia pelo menos pra mim, era o horário flexivel. Quem quiser, pode ir trabalhar até de madrugada, por exemplo.

     III- Eu e a Google (minhas aulas e pesquisas na UFRN)
    Agora, vou ter que parar de falar um pouco da Google, pra falar sobre algo importante, que de certa forma tem a ver com a Google também. Impressionada com o lance da flexibilidade de horário, escolhi esse tema como um dos principais para minhas linhas de pesquisa do Mestrado de Eng. de Produção na UFRN. Isso foi em 2006. Apareceram 28 candidatos e eu tinha apenas uma vaga. Bom, foi um processo difícil de seleção, mas a aluna selecionada até já defendeu sua dissertação. No decorrer da dissertação da aluna, vimos os prós e os contras dessa jornada de trabalho flexível. Não preciso contar os prós, porque são claros, mas como ‘contras’ tinha uma leve menção ao trabalho em excesso, entre outras coisas. Eu continuo sendo uma árdua defensora dessa flexibilidade, pois pra mim é ótimo. Eu como professora, acho muito bom poder trabalhar a noite, ou feriados, mas em troca, poder sair às 4 horas da tarde pra ir num médico, ou o que seja, por exemplo. Se termino trabalhando mais? pode ser, mas acho ótimo esse lance de liberdade de horário (exceto pra dar aula que tem que ter horário fixo, claro).
    Bom, voltando a Google. Um dia dei uma palestra pros meus alunos da UFRN sobre empreendedorismo. Usei dois exemplos, um de um empreendedor pessoal, pessoa física, a executiva Carly Fiorina, e de um empreendedor “empresa”, pessoa jurídica, que foi a Google. Na ocasião mostrei pros alunos a excelência que era essa empresa! Ademais do que já falei antes, conversarmos sobre os onze restaurantes (com cardápios fantásticos) totalmente free pros Googlers e seus convidados (podem levar convidados uma vez por mês, algo assim). Café da manha, almoço e jantar free! Comidas em todo lugar, pra lanches, como sanduiches, cafés, sorvetes, chocolates... Tem comida light e comida “gorda”, pra todos os gostos (o problema é ser disciplinado e comer só as lights! Vi muito “Chubby” por lá)! Patinetes pra se deslocarem pela empresa. Piscina, quadra de vôlei, academia de gym, pilates, ioga, massagem, tudo free. E pode-se ir à hora que quiser, o importante é cumprir a tarefa. Happy Hour uma vez por semana, incluindo bebidas (alcoólicas). Jogos fora da empresa nas sextas, big festas em lugares fantásticos para comemorar datas especiais, como Natal, Ano Novo, Ação de Graças, etc. Além de tudo isso, ainda tem plano de saúde (dos melhores!), internet paga, computador de última geração, celular, lugar para lavar as roupas, etc e tal. E, ainda tem 20% do tempo livre para se dedicarem a projetos pessoais. De vez em quando, palestrantes de renome internacional “aparecem” por lá, incluindo Chefs de cozinha, e ainda oferecem cursos, de todos os tipos e de alto nível!!
    O mais interessante é que cada um controla seu horário. No final de cada semestre, ou ano, têm uma avaliacao 360 graus. Conforme o resultado de tal avaliação, o Googler é promovido ou não. Ha incentivos para participar de projetos extras, onde assim se aprende mais e há maior possibilidade de mobilidade horizontal, ou mesmo facilita a progressão vertical. É mais trabalho, claro, mas as possibilidades existem, as chances estão dadas.

    IV- Minha primeira visita à Google!!
    Bom, fui lá fazer minha primeira visita em setembro de 2008, como uma grande expectativa. Cheguei ao prédio da 8ª Av. com a 15ª St. E Marcel desceu pra nos buscar (estávamos eu e o “meu” Daniel). Subimos e já vimos pessoas andando de patinetes, um monte de guloseimas espalhados em várias “ilhas”, pessoas brincando com legos, um bando de gente jovem rindo e conversando pelos corredores, todos se dirigindo aos restaurantes para o almoço. Os restaurantes se dividem em dois andares, sendo que num deles tem mais comida do tipo brasileira e churrasco, coisas mais “caseiras”. No outro andar, onde a maioria do pessoal freqüenta, estavam os demais “restaurantes”, que na verdade são “ilhas” num mesmo espaço. Italiano, árabe, vegetariano, americano, japonês, etc. Uma ilha imensa só de saladas, fez com que eu, de repente, passasse a gostar de saladas, e enchi meu prato com essas “iguarias”. Sucos e refrigerantes, de todos os tipos possíveis e imagináveis, também disponiveis. E, claro, sobremesas.
    Depois do almoço, fomos conhecer as salas. Quando os Googlers estão trabalhando, estão em silêncio, nada de barulho. O barulhento almoço é trocado por um silencioso trabalho. Todos concentrados. Cadeiras de massagens ali e acolá, cachorrinhos e peixinhos nas salas (todas abertas, só separadas por um baixo “tablado”), murais com sugestões, idéias etc., tudo bem colorido, bureaus com decorações próprias de cada um, quase sua casa levada pro trabalho. Muito legal.
    Mais legal são os resultados dos trabalhos desses jovens (alguns estão ficando menos jovens) que todos conhecem e nem preciso citar aqui porque são muitos e muitos produtos e serviços que a Google oferece, e que cada vez mais se modernizam e agregam valor tecnológico.

    V- ... e a Google cresceu...
    Mas, essa “grande” empresa, passou realmente a ser grande nos últimos anos. O número de funcionários mais que triplicou. Com isso, e é normal, alguns diferenciais passaram a ser mais complicados para continuar a existir. Assim, que a comidinha bem feitinha e personalizada, passou a ser feita pra muita mais gente e deve ter ficado mais difícil manter a excelente qualidade, e, depois da crise, a coisa parece que ficou menos requintada, embora ainda muito boa!! Se acompanho a dissertação de minha aluna posso visualizar alguns prováveis resultados negativos aqui também. Existem alguns blogs de Googlers onde algumas reclamações ainda meio silenciosas, começam a serem faladas, como sobre formas de tratamento dado as equipes, às vezes menos orientativo e mais “cobrador” de resultados imediatos, exigência de mais números e menos colaboração, algo por aí... etc. e tal.
    A revista Época, já em 2006, citava que um engenheiro foi demitido por revelar detalhes da vida dentro do Google em seu blog. Disse que havia um clima diferente, como se as pessoas seguissem uma religião ou fizessem um esforço extraordinário para ser felizes. A Época revelou ainda que um empresário que visitou a sede da empresa disse que 'quando se trata de proteger seus projetos e estratégias, o Google beira a neurose'. Mas, segunda ainda a revista, mesmo com todas as ressalvas, um emprego no Google continuava sendo um dos - se não o - mais cobiçados no mundo.
    Voltando aos “contras”, há ainda as coisas do lado humano, aquilo que a gente aprende sobre a gestão moderna de pessoas (e que vi realmente ali na Google), mas que de repente, em alguns casos, podem (?) ter ficado um pouco menos humano, um tanto mais capitalista, como em tantas outras empresas. O conceito criado de “empresa feliz” deve ser mantido, mas como será possível? A empresa cresceu e com isso chegaram novas pessoas, com outras mentalidades, outros estilos, outras experiências...
    Crescer nem sempre é bom, pode-se perder um pouco o controle do conceito tão almejado e conseguido por tanto tempo, mas faz parte da vida, acho. A competitividade (individual) talvez também tenha se instalado na Google, e em vez de times de colegas (que existem, lógico) é possível se ver também competições entre colegas (?). Aquele lance que minha aluna estudou em sua dissertação, da possibilidade de se trabalhar mais, até de ser explorado, também pode ser realidade em algumas áreas, como quem trabalha com desenvolvimento de softwares, ou como quem está "à beira de um ataque de nervos” pra conseguir uma promoção. Tem gente trabalhando fins de semana, noites, e não porque não trabalhou na semana, mas porque trabalha muito mais que oito horas por dia, muito mais mesmo. Entretanto, vale salientar que tem gente que trabalha muito (ou demais!) porque gosta, outros porque precisam e outros porque se viciaram nisso. Disso não se pode culpar diretamente a empresa, não é?

    VI- E sobre a minha última visita...
    Assim, que na minha ultima visita antes de ontem, eu já não senti mais a mesma emoção, nem sei se porque já me acostumei (sou quase uma moradora de NY, lembram-se? Heheheehe!), se foi tão normal pra eu estar ali de novo, ou porque ja não me impressionaram tanto os patinetes, nem as comidas, nem as vestimentas nem os pets... ou, se por algum caso, percebi por trás disso tudo alguns “contras” que estavam na dissertação da minha aluna... ou, talvez porque eu tenha chegado lá depois de uma dura caminhada num frio abaixo de zero (já contei isso antes), ou talvez porque comecei a pensar (é complicado ser pesquisadora, a gente começa a pesquisar fora de hora) que por trás da “empresa feliz” exista uma outra empresa nem tão feliz assim, e que esteja ficando como as outras. Ufa!!!
    Entretanto, a despeito da literatura sobre os prós e os contras em relação aos horários flexíveis, da verdade ou da mentira de uma gestão de pessoas mais humana (que priorize e valorize o ser humano, o conhecimento e o lazer, como já dizia Domenico de Masi), não se impressionem com minha falta de emoção atual sobre essa “grande” empresa que é a Google. Toda empresa tem seu lado negativo, como toda família, toda pessoa, enfim. Assim, acho que, sem olhar muito o lado racional e/ou técnico e teórico, a Google ainda deve ser uma empresa bem legal pra se trabalhar. Afinal, quem já viu uma empresa que pode ser a extensão de sua casa? Pode levar seu bicho de estimação, pode ir com sua roupa velha preferida, pode usar seu Armani ou seu Prada, pode começar seu dia tomando seu café da manhã por lá e voltar pra casa só depois de jantar. Fazer uma atividade física por lá mesmo, brincar, e até trabalhar (!). E, tem gente que ainda “dorme” por lá (trabalhando, claro!). Com certeza, é uma empresa muito legal pra se trabalhar!!
Resta saber se os maridos ou mulheres desses Googlers gostam disso. Ou se alguns Googlers preferiam ter um salário maior em vez de tanto beneficio indireto (o pessoal da Microsoft, que “envelheceu” antes, já não queria tanto esses benefícios, preferiam tomar café e jantar com sua familia, por exemplo). Mas, it’s obviously , não se pode agradar a todos!!
    E, finamente, a despeito de críticas ou elogios, a Google continua crescendo a olhos vistos. Se conseguiu “criar um ambiente em que todos conseguem não apenas ganhar mais dinheiro, mas sobretudo obter um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional”, como a empresa “prega”, também não sei se conseguiu. Acho isso uma coisa um tanto complexa, afinal as pessoas são diferentes e nem sempre o que é bom pra um é também bom pra outro. Mas, uma coisa é certa: Tem muita, muita gente mesmo “se matando” pra conseguir uma vaga pra trabalhar lá...




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