Em meados de 2006, li numa revista sobre o Canal de Midi, no sul da França. A revista era uma Marie Clair, da minha mãe, e a reportagem se intitulava “No Ritmo das Águas”. Na época, eu e San, tínhamos um mural aonde colávamos todas as crônicas sobre viagens interessantes e que pensávamos fazer algum dia.
Encontrei recentemente essa mesma reportagem na internet, no site http://editora.globo.com/especiais/2007/especialfranca/rep01.html. Vale à pena ler!
Num primeiro momento pensei em fazer o Canal de Midi de barco, especialmente uma pénichette, como recomendava a reportagem. Fiquei apaixonada pelas fotos e todo ano “sonhava” em fazer a tal viagem. Mas, tínhamos outras prioridades de viagens... A reportagem permanecia no mural e nada de planos concretos.
Péniches (tipos de barcos) no Canal (www.canaldumidi.com)
Barco com Bikes no Canal de Midi (http://editora.globo.com/especiais/2007/especialfranca/rep01.html) |
Em 2009 decidimos fazer um trecho do Caminho de Santiago. Na época do planejamento, Santiago (my husband) torcia um pouco por fazê-lo de bicicleta, visto que uns colegas já haviam feito dessa forma, e porque ele era (e é) um “pedaleiro” de “todo dia”... Convenci-o a fazer a pé, por diversos motivos. Um deles: por algumas trilhas que fazem parte do verdadeiro Caminho, só se consegue ir a pé.
Após o Caminho, já estávamos pensando mais concretamente em outra viagem de “aventura” e elegemos o Canal de Midi. Como tenho a mania de planejar em detalhes as nossas viagens, vi que além de barcos, as bicicletas eram outro meio escolhido pra cruzar o sul da França, beirando esse canal. Percebi, então, uma forma de “compensar” Santiago por ter cedido, ou compreendido, em fazer o Caminho de Santiago a pé. Dessa vez, iríamos de bike, até porque a essas alturas, a bike já fazia também parte da minha vida, não diária, mas de alguns fins de semana!
Foram seis dias de pedal, de Toulouse a Sète, e mais dez dias “sem bike” entre Sète, Bordeaux e Toulouse.
Pessoal pedalando pelo canal de Midi (www.canaldumidi.com)
Para chegarmos a isso, fiz todo um plano. Pesquisei na internet, comprei livros, ganhei livros de presente, fiz slides, discuti com Santiago e com amigos que haviam morado na França, etc. e tal. Escolhemos os trechos de cada dia e os hotéis. Até alguns restaurantes foram reservados previamente.
Eu com minha bike na mala-bike, pronta pra viagem! |
Como eu prometi no meu texto “VIAGENS BY BIKE – O COMEÇO”, contar no mínimo seis “contos” relativos a essa viagem, vou fazer isso. Começo com esse primeiro, que não é bem um “conto”, mas bem uma explicação sobre o canal, um pouco de história.
O Canal du Midi foi construído para ligar o Oceano Atlântico ao Mar Mediterrâneo. Na época, os franceses para comercializar seus produtos e chegar ao mediterrâneo tinham que passar pela costa espanhola, ou seja, três mil quilômetros de dificuldades incluindo o aparecimento de barcos piratas. Para evitar o estreito de Gibraltar e a navegação em águas abertas, Pierre-Paul Riquet idealizou e projetou o canal.
O rio Garonne, que começa no Atlântico, passando por Bordeaux, ia somente até Toulouse. Logo, o Canal parte de Toulouse e vai até Agde (Lagoa de Thau), com duzentos e quarenta quilômetros. Para chegar ao Mediterrâneo tem mais uns trinta quilômetros, seguindo pelo Canal de Rhône que liga Thau a cidade de Sète, chamada "a Veneza de Languedoc" (ver mapa acima).
Algumas cidades "a beira" do Canal du Midi. |
Atualmente, ao lado do Canal Du Midi, muitas pessoas pedalam no antigo chemin de halage (caminho usado antigamente para pessoas e cavalos puxarem os barcos, quando não havia vento). O canal fica noventa por cento embaixo de árvores (platanes), ou seja, na sombra!
Platanes (tipo de árvores) no Canal. |
Ao longo do canal encontram-se em torno de noventa comportas (écluses), subindo e/ou descendo (no total, cento e noventa metros). São mais de trezentas obras, incluindo as comportas, pontes/aquedutos, túneis e barragens.
Écluse no Canal (www.canaldumidi.com) |
Considerado patrimônio da humanidade pela UNESCO, o Canal levou catorze anos para ser concluído, poucos meses após a morte de seu idealizador. Inaugurado em 1681, ligando o Mediterrâneo ao Atlântico, foi um importante fator de progresso para a região de Languedoc-Roussillon ao aproximá-la do Atlântico e promover a exportação dos vinhos e tecidos do Sul da França. Hoje é usado por turistas e para o lazer dos franceses, tanto nos barcos como a pé, de bike ou até de patins. Muitos percorrem o Canal inteiro, outros apenas passeiam nos trechos próximos de onde vivem.
O Canal atravessa o sul da França pelas regiões de Midi-Pyrenées e Langedoc-Roussillon.
Toulouse é a cidade mais conhecida do Midi-Pyrenées. As cidades de maior destaque do Languedoc são Nîmes, Montpellier, Sète e Bézier e as do Roussillon são Narbonne, Carcassone, Minervois, Saint-Hilaire e Limoux.
Ao longo do Canal se pode observar uma bela rota do vinho no Sul da França. Várias cidades à beira do Canal oferecem degustação, muitas vezes gratuita, e encontram-se diversos bons restaurantes por todo o percurso.
Toulouse (http://pt.cityguide.diamscity.com/guia-franca/fotos-toulouse,cityguide_p,103158100X001XptX4200X.html) |
No primeiro dia pedalamos de Toulouse a Castelnaudary. Foram setenta quilômetros, incluindo saídas para conhecer outras cidades ao longo do canal, como Avignonet. No segundo dia foram cinqüenta quilômetros, incluindo a subida para Carcassonne (de Castelnaudary a Carcassonne). No terceiro dia, pedalamos mais quarenta e cinco quilômetros (de Carcassonne a Homps) e, no quarto dia, quase cinqüenta quilômetros (de Homps a Capestang). No quinto dia foram mais quarenta e oito quilômetros (de Capestang a Vias) e no sexto dia e último dia "de pedal", pedalamos em torno de quarenta quilômetros (de Vias até Sète).
Sète (http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sete_France.jpg) |
Os “contos” de cada dia "de pedal" virão depois.
Por enquanto, deixo, a seguir, alguns sites e livros interessantes para quem quiser conhecer melhor o canal de Midi.
Livros:
THE CANAL DE MIDI, BIKING. Phillippe Calas.
CYCLING THE CANAL DU MIDI. Declan Lyons.
À PIED, A VELO: CANAL DU MIDI. Jean-Yves Grégoire.
LE CANAL DU MIDI. MSM.
Sites (Canal):
Vinhos do Canal:
id=TZqRCaSuC0MC&pg=PA254&lpg=PA254&dq=vinhos+languedoc&source=bl&ots=TIWSDUJVZU&sig=WBXPWyYWmEJRTuyN2U95WovZJRk&hl=pt-BR&ei=_GuWSqXNFpSutge-2Li-Dg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=10#v=onepage&q=vinhos%20languedoc&f=false
Estou ansioso pelos "próximos capitulos".Parabéns pela matéria. abraço e boas pedaladas.R Mauro.
ResponderExcluirOlá! Os outros capítulos já estão postados! Obg. e boa leitura!
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