quinta-feira, 14 de abril de 2011

Caminho de Santiago pela Galícia - Dicas de transportes, "passaporte do peregrino" e certificados

Cidade de Partida: O Cebreiro (Como chegar de Madrid ao Cebreiro; como voltar de Santiago para Madrid; etc.).

Transportes:

Ônibus (Autobus)
Para ir a Piedrafita (local que fica abaixo do Cebreiro) só de ônibus. O ônibus sai da Estación Sur de Autobuses de Madrid (http://www.estacionautobusesmadrid.com/ Calle Mendez Alvaro 83; Metro: Mendez Alvaro), ou do Aeroporto. Pode comprar pela internet pela Alsa (http://www.alsa.es/portal/site/Alsa) desde o Brasil. Em Piedrafita, se não quiser subir a pé para O Cebreiro (afinal a caminhada real só começa no dia seguinte) tem táxi. É bom chegar na véspera da caminhada, para conhecer um pouco O Cebreiro e dormir bem antes de sair pela primeira vez pro Caminho!

Trem (Tren)
Para voltar de Santiago de Compostela à Madrid, é melhor de trem. Se você compra com bastante antecipação o preço sai mais barato que ônibus. Compre pela internet pela RENFE http://www.renfe.com/. A Estação de trem em Santiago é fácil de localizar. Do hotel que ficamos fomos a pé, menos de dez minutos.

Taxis e outros transportes menores:
Se você precisar por motivo de doença, pegar um carro pelo meio do Caminho, talvez não seja muito fácil, mas, é possível. Vi umas vans recolhendo pessoas e bikes... E tem táxi nos pueblos maiores... Mas, sinceramente, já que começou indo a pé, faça um esforço e vá até o fim, é ótimo, e você se orgulhará disso (dá pra ir demais)! Você pode até usar o taxi, em casos extras, quando for jantar em algum lugar fora do caminho, por exemplo... ou se realmente adoecer, que Deus “nos livre”... Mas, no caminho, no “seu” que você se propôs a fazer, faça o possível para ir com seus pezinhos... Afinal é um prazer caminhar nesse Caminho tão bonito e cheio de historias!!!




Passaporte do Peregrino e Certificados: 


O passaporte do peregrino é a credencial do mesmo, enquanto estiver fazendo o Caminho de Santiago. Nele, se colocarão os carimbos (“sellos”), nas cidades e pueblos por onde passar, para provar que cumpriu o trajeto mínimo para ter o direito a receber a “Compostelana” (Certificado de conclusão do Caminho de Santiago). Os últimos 100 km a pé ou 200 km em bicicleta já dão direito à Compostelana. 
Pode-se retirar a credencial do peregrino na sede da Associação ACACS-SP (Rua França Pinto, 203, 04016-031 Vila Mariana, São Paulo SP). É grátis! É necessário o Bilhete aéreo para qualquer lugar da Europa. 
Pela internet: O Formulário de emissão da credencial você pode fazer o download, que deverá ser preenchido, assinado e encaminhado para a ACACS-SP, em http://www.santiago.org.br/credencial.asp, ou pode solicitar o formulário pelo e-mail acacssp@santiago.org.br ou pelo telefone/fax (11) 5549.6160. Preencha o formulário da credencial e envie-o para a Associação ACACS-SP, por fax, junto com a uma cópia do bilhete aéreo, solicitando a credencial do peregrino. 


A “Compostelana”, o certificado, é emitido no escritório de recepção de peregrinos em Santiago de Compostela; é a prova de ter cumprido o Caminho de Santiago, ou pelo menos os últimos 100 km a pé ou 200 de bike. O escritório fica próximo a Catedral. Perguntando, todos lhe indicarão!

Buen Camino!







Caminho de Santiago pela Galícia - Dicas de Hotéis

Trecho percorrido: De "O Cebreiro" à Santiago


Aqui deixo a lista com endereços dos hotéis em que ficamos, desde Madrid. Não digo que são "the best", mas foram os que escolhemos dentre os que nos pareceu melhores e que havia disponibilidade na época. Gostamos deles. Alguns são casas rurais e foram fantásticas. Outros são hotéis maiores, que considero bons hotéis. Os outros hotéis menores, que não estão na categoria de casas rurais também foram muito bons. Recomendo. Evidentemente existem muitos outros hotéis com preços e serviços variados que se pode facilmente buscar na internet. 
Obs. Informações de 2009.


Cidades/Vilas de parada para dormir: O Cebreiro - Triacastela - Sarria - Portomarin - Palas de Rey - Arzua - A Rua - Santiago.



Madrid
Hostal Persal
www.hostalpersal.com
Plaza del Ángel, 12
28012 Madrid, España
Tel: +34 91 369 4643
Fax: +34 91 369 1952
info@hostalpersal.com
Metro Sol

Obs. Para quem não quer luxo, é um hotel super central e limpo. Dê preferência aos apartamentos da frente com varanda e vista para a praça. São mais charmosinhos. Os internos não tão muito bons.

O Cebreiro
Casa Valiña
telefones: +34 982367182 / 982367125 | Fax: 982367015
http://www.turgalicia.es/sit/ficha_datos.asp?ctre=331&crec=2048&cidi=E

Obs. Melhor reservar por telefone. Essa é uma casa rural muito bonita, antiga casa de aldeia,  reformada em 2000, toda de pedra, com características de um “hotel de charme”. Ótima localização. Vale a pena! 

Triacastela
Casa Pacios
Telefones: 982548158 608080556
Contato: Maria Isabel
http://www.esgalicia.com/servicios/servicios_detalle.asp?codigo=456
http://www.secretplaces.com/sp/1/hotels/Casa_Pacios.asp

obs. casa rural dentro de área totalmente rural, no meio do verde, fica a uns 2 km de Triacastela. Tem táxi para levar e trazer. A Própria dona pode fazer isso. Bela casa! 

Sarria 
NH Alfonso IX *** http://www.nh-hotels.com/nh/en/hotels/spain/lugo-sarria/nh-alfonso-ix.html
Hotel in Lugo/Sarria,
Rúa do Peregrino, 29. 27600 Sárria. Lugo/Sarria (Spain)
Tel. +34.98.2530005 | Fax: +34.98.2531261 | E-mail: nhalfonsoix@nh-hotels.com
Obs. Hotel grande da cadeia NH. Bom hotel e bem localizado. Café da manhã ótimo.


Portomarin
Hotel Pousada de Portomarin:
http://www.pousadadeportomarin.com/
info@pousadadeportomarin.com
Av. Sarria, s/n. 27170 Portomarín. Lugo. España.
+34 982 54.52.00 Fax: +34 982 54.52.70

Obs. Quartos-suites enormes, com salas, etc.. Hotel muito grande, bonito com linda vista para o rio Mino e verdes paisagens. Impessoal. Não tem ar condicionado, mas em junho “deu conta”. 

Outra opção:
Pensión Arenas:
http://www.pensionarenas.com/
Pza. Conde de Fenosa, 5 C.P. 27170 Portomarin, Lugo, España Telf: 982545386 Fax: 982545237 | info@pensionarenas.com

Obs. Não fomos, mas nos pareceu mais intimista, estilo da Casa Benilde ou Teodora (ver abaixo). Fica em cima da “galeria” onde estão a maioria de bares e restaurantes. 


Palas de Rey
Casa Benilde
www.hotelcasabenilde.com
info@hotelcasabenilde.com
Calle Mercado s/n, Palas de Rey
Tel 982 380 717
FAX: 982 380 716

Obs. Bem localizado, pequeno, limpíssimo e impecável. Pessoas (gestores e funcionários) ultra simpáticas. Café da manhã muito bom. Como um todo, nota 10. 

Arzúa
Casa Teodora
http://www.casateodora.com/
Tel: 981 500 940 - Fax: 981 500 083
E-mail: reservas@casateodora.com
Avenida de Lugo 38, 15.810 - Arzúa (A Coruña)

Obs. No modelo da Casa Benilde, talvez um pouco maior. Do típico hotel de uma família. Todos simpáticos. Tem restaurante, comida típica regional e abundante. 

A Rua
Casa Acivro
http://www.oacivro.com/
Tel: 981 51 13 16 Fax: 981 81 43 03
A RÚA - ARCA 15821 O PINO A CORUÑA
cacivro@ocamino.com

Obs. Uma casa rural moderníssima, mas mantendo o padrão por fora (e muitas vezes também por dentro) de casa rústica, com pedra e madeira. Bonita e com muito verde ao redor. Restaurante “fino”, padrão cinco estrelas. 

Santiago de Compostela
Hotel Compostela ****
http://www.hotelcompostela.es/
C/ Hórreo n.1
15701 Santiago de Compostela ( A Coruña)
981.58.57.00
reservas@hotelcompostela.es

Obs. Hotel padrão 4 estrelas e que vale as 4. Antigo prédio que manteve a fachada, mas totalmente moderno internamente. Muito bem localizado. Pode-se ir a maioria dos lugares a pé.









terça-feira, 12 de abril de 2011

Caminho de Santiago pela Galícia - Relato Resumo

Texto Resumo


Em finais de 2008 resolvi fazer o Caminho de Santiago. Não todo o Caminho, mas um trecho. Estava em Madrid quando uma amiga brasileira e que morava lá, me mostrou algumas fotos do trecho que ela havia feito, começando de Villafranca del Bierzo, o que daria em torno de um quarto do Caminho. 

Minha primeira motivação foi simplesmente fazer uma viagem diferente. As demais foram aparecendo ao longo do tempo, como tentar melhorar meu lado religioso (uma batalha que venho travando comigo mesma).


Pensei em fazer o Caminho no fim da primavera ou começo do outono. Seria menos frio e não tão quente! Combinei com Santiago (não o Santo Tiago, ou Santo Yago, mas meu companheiro homônimo, de todos os dias e de viagens) e decidimos ir em junho de 2009. 

Iria passar meu aniversário caminhando! A partir dessa decisão, comecei a pesquisar e a “viajar” nos planos do Caminho de Santiago. Desde então, foi um longo, agradável e divertido Caminho,

Igreja de Santa Maria Real, no Cebreiro.
Decidimos começar pelo “O Cebreiro”, porque, antes de tudo, era um lugar muito bonito. Seriam sete dias de caminhada, uma média de vinte e cinco quilômetros por dia. Entre os vários motivos da escolha em caminhar por uma semana, estava o tempo de férias de Santiago que calhou com o meu medo de ficar monótono ou de me cansar fisicamente. 


Normalmente, quem faz o Caminho completo a pé (o chamado Caminho Francês, mais tradicional*), o faz entre trinta a quarenta dias... Se bem que há vários caminhos que podem ser feitos em mais ou menos dias, em mais ou menos quilômetros....

*Tradicionalmente, o Caminho de Santiago, o denominado Caminho Francês, se inicia na fronteira franco-espanhola, em meio aos Pirineus do país Basco. Um pequeno povoado francês, Saint Jean Pied-de-Port, é a porta de entrada mais utilizada pelos peregrinos. O outro povoado situado a poucos quilômetros, também utilizado pelos peregrinos, é Roncesvalles, que fica na fronteira, mas, já do lado espanhol. 

Paradoxalmente, como não gosto de fazer nada que seja o “mínimo”, optei por não começar em Sarria, onde, logo após, se encontra o marco do KM 100, o mínimo percurso que um peregrino pode fazer para obter a Compostela (ou Compostelana), o certificado de peregrino. A nossa escolha pelo Cebreiro como ponto de partida nos fez caminhar em torno de 180 km. 

No marco 100 do Caminho. Começo do 3º dia de caminhada...
  “O Cebreiro”, uma antiga aldeia celta, fica depois de Villafranca, onde começou minha amiga. Começar em Villafranca significava subir quase novecentos metros logo no primeiro dia! Não encarei!

Saindo do Cebreiro
Assim, saindo de "O Cebreiro", caminhamos durante uma semana, pelas províncias de Lugo e La Coruña que pertencem a Galícia. Nessa comunidade espanhola, também chamada de Galiza, cuja capital é Santiago de Compostela, fala-se galego (gallego em espanhol), quase uma mistura de português com espanhol! 

Caminhamos por trilhas, estradas, bosques, montanhas e planícies da Galícia. Vendo uma paisagem maravilhosa com muito verde, carvalhos, eucaliptos, flores, córregos, vaquinhas e carneirinhos. Mas, também com pedras e lama. Ouvindo o canto de pássaros e sentindo o cheiro de mato e de flores, mas também o cheiro característico dos currais de vacas. 

Paisagens da Galícia...
Ao final da caminhada, estava muito cansada, com os pés doloridos, e nem tive muito tempo para sentir-me feliz na chegada à Santiago. Mas, no dia seguinte, olhando para a Compostela que recebi, me senti ótima e já pensei que faria tudo novamente. 

Quando voltei do Caminho de Santiago, comecei a escrever sobre o “meu caminho no Caminho”. As lembranças vinham à minha mente sem me dar folga, e me vi escrevendo sem parar.

Assim, meus escritos sobre essa maravilhosa viagem se transformaram no meu primeiro livro  ("Pés no Caminho, Campo de Estrelas: O Caminho de Santiago pela Galícia"). Sei que existem muitos livros, blogs e guias sobre o Caminho de Santiago e muito bem escritos. Portanto, o que escrevi não tem intenção de ser um guia, porque não o é. É apenas mais um relato sobre um trecho do Caminho de Santiago, só que visto pelos meus olhos, do corpo e da alma.

Meu livro!

O livro, dividido em duas partes (e mais anexos com dicas e endereços), começa com um diário e depois alguma crônicas. Trechos de algumas delas descreverei aqui. Os detalhes estão no livro!



O Planejamento do Caminho

Fazer um planejamento estratégico para uma viagem parece loucura. Isso é coisa de “business”, claro! Mas, eu fiz. Não que eu tenha planejado fazer um plano estratégico. Jamás, como dizem os espanhóis. 


Ocorre que fui fazendo uma série de pesquisas para ter mais conhecimento do Caminho, fui sistematizando as informações e colocando em slides, a pedido de Santiago, que disse algo como: “faça como suas aulas, e vamos assistindo”. 


Dia após dia, discutíamos e chegávamos a um acordo. Eu pesquisava mais, refazia, acrescentava, retirava, alterava, etc. e tal, até termos um “projeto pronto”.

O planejamento facilitou a realizar o sonho: uma visão com ação, que não tinha a intenção de grandes mudanças, muito menos radical. Entretanto, já era uma coisa nova, diferente, representada por uma nova maneira de viajar.

Escolhemos o ano de 2009, e pensamos que seria melhor em junho ou setembro, porque não queríamos calor nem frio (isso parecia já com uma estratégia definida a partir de uma análise do ambiente externo!). Optamos por junho!

Em Madrid, ainda em 2008, havia comprado um livro “Guía del Camino de Santiago” de Antón Pombo, porque entre várias publicações, essa incluía hotéis, hostales, casas rurais, e não somente albergues. Meu interesse não eram os albergues. Não tenho mais saco pra ficar dividindo quartos nem banheiros com muita gente. Isso pode soar pouco “peregrino”, mas é verdade. Queria e precisava dormir bem! E, também aproveitar a gastronomia e os bons hotéis da Galícia.

As delícias da culinária gallega! Pulpo y una caña!
Pesquisando na internet, encontrei vários sites interessantes, blogs e relatos de peregrinos. Entre esses tantos, estava o site do Caminho de Santiago (www.caminhodesantiago.com) e o da Associação dos Amigos de Santiago do Brasil (www.santiago.org.br), que são mais conhecidos. Excelentes!

Inconscientemente fiz um levantamento de tudo que tinha a ver com os "ambientes externo e interno" de um plano estratégico, e, ao final tinha um diagnóstico. O objetivo principal era realizar um trecho do Caminho de Santiago. Havia algumas “condições” desejadas (seriam os valores?). Iríamos a pé (podemos dizer que era um dos valores).

Com nossos valores, poderíamos ter traçado uma Missão, algo como: “Fazer um trecho do Caminho de Santiago a pé, buscando a melhoria dos valores espirituais, o encontro com o próximo e consigo mesmo; e ao mesmo tempo, curtir as paisagens, a natureza, a gastronomia da Galícia, e divertir-se”. Ufa, era muita coisa! 


Mas, nunca a descrevemos “no papel”, embora a tínhamos “na cabeça”! Pensando bem, acho que era um pouco invertido, no duro, no começo pensei nas paisagens, no vinho, na comida espanhola e no desafio. O lado religioso vinha na minha cabeça, não sei se por culpa ou por vontade de ter esse lado realmente mais forte mesmo. Mas, na verdade, o busquei o tempo inteiro.


O “ambiente externo” era o Caminho em si, as cidades, o clima, as trilhas, etc. O “ambiente interno” éramos nós, nossa saúde, as roupas que deveríamos levar, etc. A análise dos ambientes veio quase que de forma espontânea. 

Pesquisei “as ameaças e  oportunidades”, levantei "pontos fortes e fracos", mas não utilizei em nenhum momento essas nomenclaturas. Mas, estava delineado um planejamento estratégico.

Comecei o planejamento partindo do ideal. O que nós realmente queríamos fazer, onde queríamos dormir e comer, o que queríamos visitar e ver, etc. E, só depois fiz o orçamento. Sorte nossa, que nosso ideal era compatível com nosso orçamento! 

Tomamos algumas decisões para melhorar os “pontos fracos”, como por exemplo, comecei a fazer atividades físicas específicas que pudessem melhorar um problema na minha coluna, e, como não podíamos controlar as "ameaças", nos preparamos para elas (por exemplo, compramos roupas apropriadas para as chuvas, ou mudamos algum ponto de dormida para cidades com uma melhor infra-estrutura hoteleira). Vale salientar que todos os hotéis foram reservados desde o Brasil.

Como todo plano, o mesmo deveria ser seguido, e a cada imprevisto, adaptado... Outro dia ouvi um personagem de um filme dizer que “por mais que se planeje, esteja sempre preparado para improvisar”. 


Não houve quase nenhum imprevisto, e, que eu lembre o principal foram meus pés. Pés que não se adequaram às duras descidas com pedras, dentro das botas (mesmo "amaciadas" no Brasil), e tive que comprar umas sandálias. Um pequeno ajuste no plano!

Eu com minhas botas em trechos de lama...


Minhas novas sandálias que ajudaram meus pés "sofridos"...
Ao final atingimos nosso objetivo, nossa visão e nossa missão. Caminhamos sete dias, e chegamos a Catedral de Santiago no domingo, 07 de junho de 2009, conforme planejado. Fomos à Oficina dos Peregrinos, entramos numa pequena fila, e conseguimos nossa Compostelana! 


Na segunda-feira estávamos assistindo à Missa dos Peregrinos, onde pudemos compartilhar com pessoas do mundo inteiro a alegria de ter chegado à Santiago de Compostela.

Na chegada à  Santiago, em frente a Catedral!


Alguns Personagens do Caminho

Espanhóis de todas as regiões, alemães, holandeses, italianos, franceses, portugueses, suíços, austríacos, sul-africanos, brasileiros... Gente de todo o mundo se encontra pelo Caminho. De todas as idades, de todas as raças, de todos os quereres e de todos os motivos que os levam a fazer o Caminho! Religião, aventura, diversão, conhecimento e auto-conhecimento, cultura, história, promessas... 


Alguns desses peregrinos e também alguns moradores de cidadezinhas por onde passamos marcaram mais nossa caminhada. Aqui falarei um pouco sobre eles...

Santiago e peregrinos a frente...
Brasileiros...
Em “O Cebreiro” encontramos uma brasileira, que nos cumprimentou enquanto fotografávamos. No bar do hotel havia mais peregrinos brasileiros de vários lugares. Só os vimos essa vez. Aliás, de brasileiros, só encontramos rapidamente mais dois peregrinos no terceiro dia, e, depois Denise, uma gaúcha, já no penúltimo dia, quase cambaleante, andando bem devagar...


Uma francesa...
Aléxia foi uma das primeiras peregrinas que encontramos no primeiro dia de caminhada, logo após a subida para o Alto do Poio. Perguntou as horas e continuou. Uma francesa, que falava espanhol fluentemente, com vinte e dois anos e vinte quilos nas costas. Levava uma mochila enorme e parava muitas vezes para descansar. 


De vez em quando lá estava ela sentada “à beira” do Caminho, mas, como é comum aos jovens, se recompunha rapidamente. Passamos por ela e ela passou por nós diversas vezes. Ao final trocamos e-mails. (Já nos reencontramos na França depois, e atualmente continuamos e-conversando...).

Alguns moradores (plueberinos)...
Além dos peregrinos, encontra-se também os moradores dos "pueblos" que ficam no Caminho...


Em Ramil, perto de Triacastela, encontramos o Señor Anselmo que nos deu umas rosas. Até aí, tudo bem, mas... Depois ele queria nos vender uns cajados. Dissemos a ele que já tínhamos, etc. e tal. Conversa vai, conversa vem, eu num canto meio desconfiada... Santiago continuou conversando e, lá pras tantas ofereceu uns euros a ele. Ele aceitou, mas queria que levássemos algo em troca...


O Señor Anselmo quase não nos deixa ir, querendo conversar mais e mais, contando mil histórias. Era apenas um senhor solitário num pequeno povoado, querendo companhia “mais um pouquinho”. Legal ter recebido as rosas, e legal conhecer gente boa pelo Caminho. Pena que por uns, outros “pagam o pato". Pois é, eu tinha lido algumas coisas na internet de uma senhora não tão legal...

As rosas de Anselmo...
Falando nisso, no meio do Caminho havia essa tal senhora que “enganava” os peregrinos. Pois bem... Eu tinha lido na internet que em Fonfria havia uma senhora, com cara de boazinha, oferecia crepes aos peregrinos, insistia, e, quando alguém aceitava, ela cobrava “os olhos da cara”. 


Ela dava a entender no início que era "grátis", uma amabilidade aos peregrinos... Eu já sabendo, me deparo com essa tal senhora (parecia um dejá vu). Do jeito que descreveram, lá estava ela, sentadinha, com os crepes no colo. Ela ofereceu os crepes e eu disse "no, gracias". Ela insistiu, mas eu não parei... 

Quando encontrei Alexia (a francesa) depois, ela me contou que aceitou o crepe e a senhora cobrou não sei quantos euros ... Imaginem! E Alexia pensando ser uma gentileza... C'est la vie! Mas, no Caminho essa foi uma exceção, pois a grande maioria é gente com um bom coração!

Em um outro pueblo, estávamos a admirar uma casa e chega o dono, um senhor, que aparentava estar “na casa dos oitenta”, e foi logo conversando. Bem simpático, disse que tinha reformado a casa poucos anos atrás. Chamava-se Ferdinando e nos deu total liberdade, com um certo orgulho, para fotografar e filmar a casa (e a ele também). 

Mais na frente encontramos Dolores, uma plueberina, que com seus oitenta anos, não permitiu que a filmasse, mas nos presenteou com uma conversa gostosa e franca. Queixou-se um pouco da velhice, mas ao mesmo tempo se mostrou bem viva e forte, e falou um pouco de sua vida naquele povoado. Tinha família na América do Sul que a visitava sempre, e filhos que trabalhavam e moravam “ali por perto”.

De outros peregrinos...
Quanto aos peregrinos, a maioria que vimos eram espanhóis e alemães, e, esses últimos nem tão novos! Admiráveis! Dentre eles, lembro três alemãs que caminhavam juntas e as encontramos numa fonte a banharem-se alegremente. Rostos, pescoços e pés sendo refrescados. Santiago aproveitou o ensejo, tirou a camisa, e tomou um banho “pela metade” (“banho de gato”?).


A fonte dos "banhos"...

Peregrinos no Caminho
Um casal suíço...
Além de Alexia, fizemos também outros novos amigos no Caminho. Estávamos em Sarria e encontramos um casal simpaticíssimo (que vimos antes também no nosso hotel), numa loja onde estávamos a buscar uma sandália para os meus “pobres” pés. Fiquei impressionada com a simpatia do casal. Em espanhol, ele falou com a gente e brincou dizendo que ela, a mulher, também estava com problemas nos pés.


Nos apresentamos e descobrimos que eles eram suíços. Ele se chamava Floriano e ela Mirian. Como ele falava espanhol, era simpático e se chamava Floriano, imaginamos que deveria ser descendente de espanhóis. Descobrimos depois, que não era nada disso, eles realmente eram suíços simpáticos e animados! Nos encontramos diversas vezes pelo Caminho, e ficamos amigos até hoje (e até já nos encontramos na Suíça...)!

Jantar em Palas del Rey com nosso amigos suíços.
Carmina, uma espanhola...
Mas, personagem ímpar foi Carmina. O primeiro encontro com Carmina foi durante a missa em Sarria. Pensei que ela fosse uma habitante local, uma pueblerina. Aparentava em torno de sessenta anos ou mais, era meio gordinha e vestia-se como uma camponesa, ou quase como uma cigana. Uma figura! Amplas saias, roupas simples... 

Um dia, no meio de uma caminhada avisto Carmina e percebi que ela era também uma peregrina. Noutro dia, paramos para fotografar um dos marcos do caminho, e lá estava ela sentada num banco ao lado. Encostado ao marco estava seu cajado. Aquele sim, que podemos chamar de cajado! Tinha todos os detalhes de um cajado que vemos nas fotografias antigas de peregrinos: uma cruz bem no alto, conchas de vieira, fitas coloridas, e calabazas penduradas. Surreal e belo! 

Encontramo-nos com ela outras vezes E, várias delas, ela estava falando no seu celular! Era engraçado ver Carmina no meio dos bosques, das trilhas, falando ao telefone! 


Numa dessas vezes observei uma coisa importante: Carmina não levava mochila como todos os demais. Levava apenas um saco plástico, desses de supermercado, nas mãos! Quiçá com uma “muda” de roupa dentro. Tampouco usava roupas “especiais” de peregrinos. Às vezes uma bermuda estampada, de tecido fino; às vezes uma saia, e umas sandálias (que provavelmente não tinham nada de especiais) com meias. 


Toda a indumentária de Carmina contrariava totalmente as recomendações que encontramos nos sites! Pois é, e ela tava lá, caminhando firme e forte!

Vendo Carmina caminhar na minha frente, subindo uma ladeira numa trilha com muito verde, percebi que ali ia uma verdadeira peregrina. Percebi também que admirava aquela personagem, e já gostava dela.

Dizem que no caminho se vê duendes, fadas e bruxas. Afinal, a Galícia tem “dessas coisas”. Carmina deve ser uma fada, uma bruxa boa, ou um anjo. Acho que se eu pudesse escolher, ela seria meu anjo da guarda do Caminho.

E lá vai Carmina com sua capa de chuva...


Das mudanças e aprendizados 

Algumas pessoas falam que mudam, que ficam mais sensíveis, que vêem duendes, bruxas... Eu, pessoalmente, acho complicado falar sobre essas transformações e visões. Para mim, não tem nada a ver com fadas ou bruxas, nem mesmo com “depois do Caminho fiquei mais sensível ou mais solidária ou menos materialista”, sei lá... 

Acredito que nenhuma mudança ocorre bruscamente, nem por um fato isolado. Nós mudamos com o tempo e com as nossas escolhas. Isso leva tempo! Mas, aprendi que cada um é cada um! Para alguns essas mudanças são claras como as águas do Caminho! Para mim o Caminho deve ter contribuído para alguma mudança no “coração” (pelo menos é o que eu acho ou o que eu desejo). 

Fiz questão de entrar em todas as Igrejas que estavam abertas, e as que não estavam parava um pouco em frente, e de alguma forma rezava. Pouco pedi para mim, rezei sempre pelo meu pai, e por outros familiares e amigos já falecidos. Pelos vivos, pedi sempre pela saúde e pela paz da família. E, agradeci, sempre agradeci no Caminho, pelo que já recebi. 


Acho que aí já vejo, pelo menos, uma pequena elevação do meu lado espiritual, pois desejava agradecer e não pedir. Suseya!

Igrejinha no Caminho...
Me atrevo a dar um conselho: Se não for a pé (a pé, é preferência minha e da maioria), vá pelo menos mais devagar. Na pressa se pode deixar de ver muita coisa bonita. Como diz o ditado “quem corre cansa, quem anda alcança”. E, “devagar se vai ao longe”! 

Vi pessoas caminhando de várias formas e por vários meios, se hospedando em albergues ou em hotéis de vários números de estrelas ou sem estrelas, fazendo o caminho todo ou parte dele. Não importa como ou o motivo pelo qual fizeram o Caminho. Importa que o fizeram. 

Segundo a tradição, todos os que chegam à Catedral da cidade de Santiago de Compostela, independente da forma de transporte, recebem o perdão dos seus pecados. Ponto.

Finalmente, em minha opinião modesta, como diria meu pai, as mudanças e os aprendizados não acontecem de repente e nem terminam de acontecer. No final, continuamos mudando e aprendendo. É um processo que não acaba nunca. E eu, continuo no Caminho, mesmo em pensamentos.

Observação final: O livro "Pés no Caminho, Campo de Estrelas: O Caminho de Santiago pela Galícia", escrevi para que os amigos e pessoas interessadas no tema possam sentir o Caminho que eu vivenciei, e, quem sabe se motivem a fazer o mesmo. Que seja o caminho físico ou que seja o espiritual. No fim, acho que todos os caminhos levam a uma realização de “quereres”, trazendo de volta “a leveza do ser”, mais sustentável...




Trechos Percorridos:

Dia 1: O Cebreiro - Triacastela 
Dia 2: Triacastela - Sarria
Dia 3: Sarria - Portomarin
Dia 4: Portomarin - Palas de Rey
Dia 5: Palas de Rey - Arzua
Dia 6: Arzua - A Rua
Dia 7: A Rua - Santiago
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O Livro: "Pés no Caminho, Campo de Estrelas - O Caminho de Santiago pela Galícia"


Página de venda de "Pés no caminho, campo de estrelas".
link: http://jovensescribas.com.br/pes-no-caminho-campo-de-estrelas-ana-celia-cavalcanti/

jovensescribas.com.br
“Pés no Caminho, Campo de Estrelas – O Caminho de Santiago pela Galícia” é um divertido relato da experiência vivida pela autora em sua aventura como peregrina num dos destinos mais procurados do mundo.






terça-feira, 5 de abril de 2011

LIVRO: PÉS NO CAMINHO, CAMPO DE ESTRELAS - O Caminho de Santiago pela Galícia

Página de venda de "Pés no caminho, campo de estrelas".
link: http://jovensescribas.com.br/pes-no-caminho-campo-de-estrelas-ana-celia-cavalcanti/

jovensescribas.com.br
“Pés no Caminho, Campo de Estrelas – O Caminho de Santiago pela Galícia” é um divertido relato da experiência vivida pela autora em sua aventura como peregrina num dos destinos mais procurados do mundo.